Quanto tempo leva para superar a dor da
perda? Quanto tempo para digerir uma rejeição? Absorver que um sonho terminou?
Esquecer uma frustração? Uma mágoa de infância? Um trauma? Uma demissão? Os
psicanalistas provavelmente responderão que é preciso respeitar o ritmo de cada
um. Há quem seja rápido na retomada da vida, e há os mais lentos, que necessitam
de um acompanhamento mais intensivo. Não há como decretar: dois dias, dois
meses, dois anos.
Só que a maioria da população não procura
psicanalistas. Não têm dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As
pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham
insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se
que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é
num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que
demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que inquietação.
O passado e o futuro são dois períodos que já
não interessam: cultua-se o presente como nunca antes. O que vale é este
momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem
ainda espera dias por uma resposta? Meses por uma solução?
Na vida burocrática, governamental, a demora
ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas
no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais
compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos
impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a
maior agilidade possível.
Porém, há tranqueiras e
tranqueiras.
Você consegue resolver pendências profissionais
de imediato, consegue tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a
produtividade. Mas não foram essas as questões levantadas no início desse texto.
Falávamos de tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos
coube, de assimilar mudanças.
Sentimentos não são regidos por megabytes por
segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas – é o curso
da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a
introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.
Diante da dor emocional, só há uma ordem a
respeitar: paciência. De nada adianta inventar alegrias fajutas e se oferecer
para a cobiça do mundo sem antes estar com a alma serenada e forte. É preciso
saber esperar, do contrário a gente se atrapalha e só reforça a miséria
existencial que preenche as madrugadas.
Basta de tanta gente evitando pensar, evitando
chorar, evitando olhar para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste
que só faz demorar ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro – aquele
aguardando a hora certa de voltar.
Martha Medeiros