domingo, 22 de novembro de 2015

Encontros...



O intervalo entre relações é um período de encontros. Conosco, em primeiro lugar, mas logo em seguida com o mundo. A gente está triste, (porque perdeu um grande amor), ou se sentindo esquisito, (porque todo fim deixa um gosto amargo), e nesse estado delicado começa a tropeçar nas pessoas.

Cruzamos com aquele rosto conhecido na livraria. Descobrimos um sorriso novo e atraente numa festa. Recebemos, por rede social, um agrado inesperado, vindo de alguém que admiramos de longe, faz um tempo.

Esses encontros são o melhor que pode nos acontecer nesse momento da vida. Eles nos lembram que há mais gente no mundo do que a pessoa que nos deixou ou a quem deixamos. Mostram que o nosso interesse pelos outros está vivo. Informam que somos capazes de provocar desejo e afeto nos demais.

Ao final de uma ruptura dolorida, a gente esquece que existe o futuro. Imagina que a dor e a solidão vão se perpetuar e que o vazio que nos assombra jamais será preenchido. Os encontros ocorrem para nos lembrar que não é assim.

Você está parado na fila do banco e, num impulso, puxa conversa com a pessoa ao lado. Ela se revela divertida, inteligente, tem um jeito gostoso. Você volta para casa com um novo número na agenda e uma possibilidade erótica ou romântica que, uma hora antes, não existia.

Isso só acontece com quem está disponível. Mergulhados na depressão da separação, não atentamos para o lado brilhante que ela nos apresenta: agora podemos, sem inibições, nos aproximar de gente que achamos atraentes. Ou permitir que gente que nos agrada se aproxime de nós.

Quantas vezes, durante uma relação, você não evitou pessoas interessantes porque rolava um clima? Agora não precisa mais ser assim. Você pode baixar a guarda e deixar a situação avançar ao sabor das circunstâncias. O limite é o seu desejo e a sua disposição de experimentar.

Tenho ouvido amigas preverem que esses encontros não acontecerão com elas. Dizem que não querem, que não estão prontas ou que são exigentes demais quanto às pessoas que escolhem. Curiosamente, é comum que as mesmas amigas revelem, semanas ou meses depois, que as coisas (vejam só!), aconteceram, e com gente totalmente inesperada: muito mais jovem, muito mais velha, ou sem qualquer conexão com o seu gosto anterior. Seus padrões de exigência foram subvertidos em contato com a realidade. Chamo isso de vida.

É claro que nesse período de descobertas teremos desilusões. Gente que nos agrada não terá o mesmo sentimento por nós. Ficaremos enamorados de pessoas que desejam apenas ser nossas amigas. Faremos sexo a procura de amor e não acharemos. Faremos sexo sem querer mais nada e machucaremos alguém. Mas isso faz parte. Somos adultos num mundo de adultos. Sabemos que há desencontros e que a vida às vezes dói.

O importante, eu acho, é estar aberto aos encontros. Um convite inesperado. Uma conversa despretensiosa. Um olhar. São várias as portas que levam as pessoas na direção uma da outra. Melhor não as fechar. Melhor permitir que esse momento de tristeza e descoberta que sucede a separação seja povoado por faces e sensações novas. Elas talvez não levem a nenhuma relação duradoura, mas, quem sabe? O importante é sair do escuro da melancolia e voltar à vida. Nós, como as mariposas, nascemos para viver perto da luz.

Ivan Martins

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