quarta-feira, 29 de junho de 2011

O que é ser Mal - Amado?

 
 
Antes de adentrar no universo temático a que me propus, considero importante fazer uma pequena explanação a respeito do prefixo latino mal-, que significa: maldade, desgraça, imperfeição. É a partir dele que podemos interpretar a expressão tão conhecida “mal-amado(a)” e que traduz um tipo de relacionamento que pode se tornar vicioso caso não haja, por parte do “infectado”, a dissipação dessa prática sobre si.

Tanto homens quanto mulheres podem permitir-se ser mal-amados, seja por um tempo ou por uma vida toda. Ser mal-amado(a) não é sinônimo de ser carente ou solitário(a), como a maioria pensa, é ser mal gostado(a), mal desejado(a), mal querido(a). É um jeito torto de ser (licenciosamente) amado(a). Permanecer nessa realidade depende do quanto vale e pesa a auto-estima. Uma pessoa mal-amada é aquela que tem um amor ruim, defeituoso, que leva anos para se formar ou para se dissipar.

A verdade é que já evoluímos muito nos nossos relacionamentos, porém estagnamos na padronização comportamental das relações amorosas às quais nos envolvemos. É expectativa da mulher ser amada, assumida. Ainda hoje é ela quem se responsabiliza por formar um lar, um ninho, uma família. Já o homem, compromete-se a lhe proporcionar felicidade e amor consistente. É uma visão romanticamente linear, mas racional e sistemática em excesso para que dê certo sempre.

Existem amores às avessas, truncados, que começam e terminam mal. Outros, nem terminam. Resistem, ano após ano, recomeçando, tentando encaixar-se ou, simplesmente, deixando ao sabor do tempo, o veredito da história. É como se a pessoa acreditasse que ali existe amor puro, mesmo que não haja o frescor das emoções nem a insistência em mudança. Exemplos de se amar mal é a promessa não cumprida, o amor não correspondido à altura, a expectativa sempre alerta, que não se realiza nunca.

Uma pessoa mal-amada é aquela que se dá a um amor furtivo, dissimulado, algo que fica entre “o que pode ser” e “o que parece, mas não é”. É um amor falso, tendencioso, beirando o abismo. Aquele que faz mal, que despreza, que desorienta, que incomoda, que desgasta física e psicologicamente. E independe se a pessoa compactua com essa circunstância. O fato é que permitir-se ser mal-amado(a) abre possibilidades para dois seres infelizes que, um ao lado do outro, sofrem as mazelas dessa relação débil, insuficiente, sofismática.

Consentir-se ter um amor ruim é ser indulgente consigo e com o outro, é ter um comportamento obtuso, inseguro, de atitudes mecânicas e uma visão desesperançada da vida. É bom lembrar de vez em quando que uma relação não é via de mão única e que ambos precisam “plantar” para “colher”. A quem se contenta com um amor-bambo, acostume-se a ser denso, porque as coisas não vão mudar. Conforme-se com a tristeza e aprenda a não acreditar em felicidade. Como disse Victor Hugo: “A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados”. Em suma, "take it or leave it"!
 
Por: Afrodite para Maiores

terça-feira, 21 de junho de 2011

Quem é dono de quem?

 
Segundo os especialistas em psicologia social, o ser humano é dotado de seis diferentes tipos de amor: altruísta, romântico, lúdico, pragmático, possessivo e cooperativo. Acredito que um dos tipos de amor mais perigoso é o amor possessivo - aquele que aprisiona, conduz, direciona as emoções conforme a sua vontade e determinação. Pior do que isso, de acordo com a sua visão de amor. Uma pessoa que entende o outro como propriedade é incompetente para construir qualquer relação. Ela é portadora do amor que sufoca, que angustia. É o amor dependente, que só se satisfaz com a total dedicação do(a) parceiro(a) em todas as situações, desde as mais simples até as mais complexas. É o amor egoísta, chantagista, que torna o relacionamento pesado e tóxico.

É claro que ninguém saberá como vai agir diante do amor já que este foge a regras e explicações, também é improvável que alguém consiga medir a intensidade dos seus sentimentos e tente equilibrá-la para mais ou para menos a fim de atingir um nível satisfatório ou ideal, que não fira a liberdade do(a) parceiro(a). Porém, quando as coisas começam a se desenhar desarmônicas é chegada a hora de racionalizar até que ponto as próprias atitudes estão soando invasivas na vida do outro e prejudicando a estabilidade do relacionamento. Tudo começa com as desconfianças, seguidas de cobranças, até chegar ao controle absoluto da rotina do outro, tornando-se normal a inquirição sufocante e incômoda sobre as ações e reações do(a) parceiro(a) em todas as suas relações: sejam elas afetivas ou profissionais.

É o cotidiano o responsável pelas divergências que começam a surgir, dando vazão a discussões, desgaste e decepção. Cobra-se pelo atraso para chegar em casa, pelo jantar que não foi como o esperado, por não ter atendido o celular, pela falta do carinho de antes, pelo encontro com os amigos até mais tarde, pelo que postou na rede social a um(a) amigo(a), pela música que resolveu ouvir sozinho(a) e por tantas outras motivações que acabam ofuscando os sentimentos. Quem não se sente seguro numa relação afetiva tende a policiar todo e qualquer acontecimento que envolva a sua cara-metade. No menor sinal de "perigo" haverá uma reação negativa diante da pessoa (e daquilo) que se quer preservar. E se não houver um esclarecimento plausível (por parte do "acusado"), a partir desse momento, qualquer passo divergente do habitual será motivo para cobranças imediatas, seguidas de chantagens e mais desconfianças.

Normalmente, as pessoas que agem dessa maneira são aquelas que se dão por inteiro à relação e passam a viver somente para aquela história, para aquela pessoa, sufocando a si e ao outro num espaço onde não cabe mais nada, a não ser os dois. Ela abdica dos seus gostos, dos prazeres antigos, da sua opinião e das amizades em nome de uma realidade que foi rabiscada com traços exclusivos para serem seguidos à risca, segundo as suas expectativas. Sequer percebe que essas expectativas podem não ser recíprocas. Ela esquece que ambos possuem jeitos, quereres e temperamentos oblíquos, que não há por que comungarem da mesma maneira. Ela não percebe ainda que não é o patrulhamento diário que garantirá o futuro da relação. Sobretudo, ela se recusa a ver que sentimento não se impõe, conquista-se no dia a dia.

Se o outro, que a essa altura, já mudou o comportamento por questões impostas não estiver disposto a entender o que está acontecendo e procurar resolver o impasse à custa de muito diálogo, desatando os nós das desconfianças, fatalmente, esse amor estará fadado ao fracasso. Num primeiro momento, poderá investir no relacionamento com justificativas e tolerância, mas a tendência é que se canse das exigências comportamentais do inseguro e assuma uma personalidade fria e distante, assassinando, aos poucos, a relação. E entram aí o silêncio, a desilusão, a falta de perspectiva futura, até o incontestável fim daquilo que poderia ser uma doce e estável história de amor.

Dividir o mesmo espaço e ter os mesmos desejos não significa controlar, orientar, manipular as atitudes do(a) parceiro(a). Não bastam cumplicidade e amor, faz-se necessário confiança e liberdade para ir e vir. É bom olharmos para as nossas atitudes e percebermos até onde estamos indo, se as nossas ações não estão interferindo na vida social de quem está ao nosso lado. Quem manipula é desprovido de amor próprio, gera conflitos internos e fica deprimido. Quem ama possessivamente cai, mais cedo ou mais tarde, numa esfera vazia, perene; num labirinto sem saída. Ligue-se, confira-se, execute-se! Não permita o fechamento do capítulo da sua história à outra pessoa, mas não queira ser você o(a) autor(a) do término da história dela. Não coloque em mãos alheias a obrigação pela sua estabilidade emocional. Ninguém nos completará em plenitude (e nem por todo o tempo). O nosso equívoco está em querer personificar as emoções e não em senti-las espontaneamente. Pense nisso!

Por Afrodite para Maiores

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mudança...


"Quando nos dedicamos, com o coração, à busca do autoconhecimento, é inevitável que chegue um instante em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais. Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem. Inábeis com a paisagem aos poucos revelada, às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades, por mais libertadoras que sejam. É em vão. Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos. Existem portas que se desmancham após serem atravessadas, como sonhos que se dissolvem ao acordarmos. Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las. Da estreiteza à expansão. Da semente à flor. Do casulo às asas, nos ensinam as borboletas."

Ana Jácomo

sábado, 11 de junho de 2011

Linda Rosa

Quantas vezes assassinei o amor ?

 





"O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.
O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela. "

Fabrício Carpinejar

Amor

Nietzsche dizia que quando alguém decide se casar, a pergunta mais importante que deveria se fazer é: "Terei prazer em conversar com essa pessoa quando eu for velho?"

Junho chegou e trouxe a tiracolo a data comercial do amor: o Dia dos Namorados. Não se ouve falar de outra coisa (além do ministro Palocci, obviamente): TV's e revistas estampam vitrines de lingeries, perfumes, bombons e flores, num convite a demonstrações financeiras do sentimento supremo. Mas, ainda que seja muito bom dar e ganhar presentes, será que são realmente indispensáveis para o amor? E numa data específica?

Depois de uma certa idade - e não exatamente avançada - você conclui que experiência não se transmite. E quando se trata de relações afetivas, essa percepção fica ainda mais evidente. Não dá, por exemplo, para dizer para alguém apaixonado que 'um amor e uma cabana' são coisas de romance - livro, filme e novela - e que, quando a realidade vem com contas a pagar e filhos pra criar, se a base for só a paixão avassaladora dos dois primeiros anos de delícias, seu sonho de amor está fadado ao fracasso.

Também não é viável ponderar sobre coisas que só quem está de fora é capaz de enxergar. Por exemplo: o namorado da sua amiga bebe um pouco mais que o razoável; a namorada do seu irmão é ciumenta acima do normal - até pra você ela 'rosna'; o novo namorado da sua colega de faculdade tem ares de playboy e desaparece demais... Mas quem vai arriscar dizer qualquer coisa contra aquele bonitão grosseiro que com um 'vem cá, meu bem' faz a amiga esquecer tudo o que ele aprontou, dissipando defeitos ou contratempos? Como é que se vai abordar um irmão, se quando a moça chega cheia de chamego - e decotes - ele nem lembra que tem família?

Tem várias coisas que passam despercebidas a olhares românticos, mas que fazem diferença quando a relação começa a ficar mais estreita. E quando isso acontece, a ilusão se desfaz e os 'detalhes' caem sobre os apaixonados como um raio de desencanto. O sofrimento fica inevitável e, não raro, sela-se o pacto de nunca mais amar... Até que um novo ciclo de amor recomeça - do mesmo jeito...

Mas tudo seria mais fácil se a gente olhasse para o outro - eleito/a - com um olhar menos emocional, desde o início, mesmo quando a gente tenta convencer - a si e aos outros - que a coisa é passageira. Se ponderasse sobre futuro, responsabilidades, objetivos comuns, carreira, filhos, casa própria, família, velhice - os assuntos sérios que a gente esquece (nem lembra!) quando está apaixonado -, muitas frustrações poderiam ser evitadas.

Alguém pode alegar que se assim fosse, o encanto desapareceria antes de começar. Mas também haveria menos dor e desilusão - 'verbos' que não combinam com a felicidade desejada, nem no início, nem no fim.

Se fosse possível ter um olhar mais objetivo sobre o amor logo que ele nos flecha, haveria menos abandono e separação, menos silêncio e solidão (inclusive entre os pares), mais alegria genuína e paz de espírito. Nada de atitudes passionais: dias mais calmos e amor de verdade, tanto e mais - até que a morte os separe.

E muito mais conversa - em todas as fases da vida a dois...

Fonte: Debora Bottcher

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O contrário do amor

 


O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

Por Martha Medeiros

sábado, 4 de junho de 2011

VAMPIROS...


Eu não acredito em gnomos ou duendes, mas vampiros existem. Fique ligado, eles podem estar numa sala de bate-papo virtual, no balcão de um bar, no estacionamento de um shopping. Vampiros e vampiras aproximam-se com uma conversa fiada, pedem seu telefone, ligam no outro dia, convidam para um cinema. Quando você menos espera, está entregando a eles seu rico pescocinho e mais. Este "mais" você vai acabar descobrindo o que é com o tempo.

Vampiros tratam você muito bem, têm muita cultura, presença de espírito e conhecimento da vida. Você fica certo que conheceu uma pessoa especial. Custa a se dar conta de que eles são vampiros, parecem gente. Até que começam a sugar você. Sugam todinho o seu amor, sugam sua confiança, sugam sua tolerância, sugam sua fé, sugam seu tempo, sugam suas ilusões. Vampiros deixam você murchinha, chupam até a última gota. Um belo dia você descobre que nunca recebeu nada em troca, que amou pelos dois, que foi sempre um ombro amigo, que sempre esteve à disposição, e sofreu tão solitariamente que hoje se encontra aí, mais carniça do que carne.

Esta é uma historinha de terror que se repete ano após ano, por séculos. Relações vampirescas: o morcegão surge com uma carinha de fome e cansaço, como se não tivesse dormido a noite toda, e você se oferece para uma conversa, um abraço, uma força. Aí ele se revitaliza e bate as asinhas. Acontece em São Paulo, Manaus, Recife, Florianópolis, em todo lugar, não só na Transilvânia. E ocorre também entre amigos, entre colegas de trabalho, entre familiares, não só nas relações de amor.

Doe sangue para hospitais. Dê seu sangue por um projeto de vida, por um sonho. Mas não doe para aqueles que sempre, sempre, sempre vão lhe pedir mais e lhe retribuir jamais.


Martha Medeiros

TER OU NÃO TER NAMORADO


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.


Artur da Távola

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O que é, afinal, essa tal felicidade?

 
 
Estive, por esses dias, com uma frase do Freud na cabeça que, de certa maneira, impulsionou a produção deste texto. Ela diz: “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”. Pensando, genericamente, a teoria freudiana faz todo o sentido. Porém, considerando que, erroneamente, buscamos a felicidade no outro, se esta destoar da nossa, como seremos felizes?

Acredito que a estranheza nas relações se dê pela diferença de expectativa que ambos constroem mentalmente. Somos dotados de vontades, instintos, emoções, que despertam de maneira peculiar, especialmente se atentarmos para a sexualidade de cada ser. Homens são mais objetivos e não escondem o que sentem e pensam, seja nos trâmites profissionais ou nos seus relacionamentos. Já as mulheres, cheias de sensações complexas e unilaterais, enfrentam dificuldade em traduzir o que querem ou esperam em determinada situação do seu envolvimento amoroso.

É muito fácil idealizar uma relação, esperar que ela dê certo e que ambos se completem com a mesma intensidade. Mas, por mais otimistas que sejam os prognósticos de felicidade, precisamos pesar e medir o grau de envolvimento, a personalidade de cada um e as sutilezas comuns a cada sexo. Como lidar, então, com a felicidade própria se ela depende da satisfação alheia? Não existe possibilidade de se sentir feliz se o outro não responde com reciprocidade. Portanto, afirmar que “a felicidade é um problema individual”, não só é relativo como é intrigante.

É possível que, em tempos de paixão, as emoções comunguem pelo mesmo caminho e tudo flua em plena constância e satisfação. No entanto, ao passar a fase onírica de entusiasmo febril, pode ser que a sensação de felicidade comum aos dois comece a ganhar um aspecto turvo, cedendo espaço à busca pela felicidade individualizada, aquela que nutrirá os próximos dias e a nova realidade. A tendência masculina é a mudança de comportamento, e a feminina, a frustração. É óbvio que isso acontece com todos os casais. Chegará o momento em que os gostos, as vontades e os ideais emergentes comecem a se solidificar, e o afastamento (ainda que sutil) seja inevitável.

Mas não é isso que queremos, tampouco o que esperamos que aconteça nos nossos relacionamentos, afinal, a primazia de dividir a vida com alguém está em ser e fazer o outro feliz. É para isso que vivemos a dois. A quatro mãos buscamos plenitude e estabilidade ,a quatro mãos escrevemos a nossa história. Contemplamos sonhos e desejos comuns a ambos. Buscamos sempre no outro a resposta para um sorriso, o motivo para dormir até mais tarde, a razão para ouvir uma música romântica, a confissão do “eu te amo”, a sensação de ser admirado por alguém que nos é especial.

A felicidade que queremos, portanto, é algo que combina com prazer, segurança, entrega, fidelidade e desejo de que será para sempre. Os laços podem ser mútuos, mas a sensação de bem-estar ao lado do outro só será contínua e estável se, ao passar o estágio de encantamento, ambos percebam que, embora sejam dois, a felicidade de cada um é responsabilidade própria, sem que se possa atribuir ao outro encargos de mantê-la em estado permanente. Aliás, de permanente, só existe o desejo de ser feliz!

Por Afrodite para Maiores

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Foda-se


O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.
"Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Pra caralho", por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"?
"Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho ,o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!".
O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" não o substituem.
O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto.
Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral?
Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo:
"Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos
viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior.
É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" – presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!".
Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao
canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai tomar no olho do seu cu!"?
Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face,
olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado e amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!".
E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!".
Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.
Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:
O que você fala? "Fodeu de vez!".
Liberdade, igualdade, fraternidade – e foda-se!

Por Millor Fernandes (adaptado)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Viver de Saudade...

 
 
Saudade... Por diversas vezes pensei nesta palavra como sendo das mais melodiosas e bonitas de nossa língua. Mas não estive pensando só na sua fonética, mas também em seu significado.

Saudade é um sentimento que aperta o coração por resgatar as coisas boas e significativas e que não voltam mais. Porém, ela aparece na maioria das vezes num momento em que estamos meio enfraquecidos, num momento de insatisfação, de algo que não está bem.

Oh! Que saudades que tenho / Da aurora de minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!

Senti saudades de minha infância, quando passei por situações em que eu precisava crescer;  por  situações em que precisava ser forte, ter meus filhos, ser madura.

Sinto saudades dos períodos em que fui protegida, que não precisava tomar decisões; quando ainda não me dava conta de que a vida  apronta e nos coloca diante do desconhecido. Sinto saudades da minha infância; nela, ainda não sabia o que significava  finitude.

Sinto saudades da época em que não conhecia as maldades do mundo, das violências, dos fracassos, das culpas ou dos remorsos. Saudades dos que me deixaram e partiram! Ficando em mim parte deles...

Sinto saudades da minha inocência. Ser adulto é bom, é a fase da liberdade, mas com toneladas de responsabilidades. Somos responsáveis por outras vidas que formamos.

Mas agora o momento é ter metas e sonhos que se direcionem neste presente, talvez pela objetividade que tenho de ter, pelo tempo que não é mais uma eternidade.

Sinto que viver de lembranças faz um rebuliço no presente: nos prende e nos atrasa. Nos reporta apenas a uma vida que não volta mais.

O que mais ouço, são lamúrias ditas pelos descontentes que passam se lastimando da educação que receberam, do que não tiveram, do filho preferido que não foram e dos beliscões que levaram da própria vida.

Não conseguem excluir, acrescentar ou modificar nada. Vivem amargurados e presos. O processo de cicatrização não se concretiza; o passado está tão ativo que não permite uma vida plena, mesmo em meio à tempestade.

O mundo é este aqui, nesta sociedade cada vez mais doente, cheio de gente enlouquecida rolando suas neuroses. E ter vivido ontem como hoje, é batalha, é guerra, é superação. É coragem.

Que minhas saudades se acalmem e que calem; que me deixem viver na parte que me cabe neste louco latifúndio.

Por Taís Luso