domingo, 21 de dezembro de 2014

Se a vida te ventar, monte nela e voe...





Trovões, ainda hoje, me dão medo. É São Pedro fazendo faxina e arrastando móveis no céu? Então ele devia colocar feltro nos pés dos móveis! Porque já não era sem tempo dele perceber que, dessa forma, atrapalha os vizinhos. Já ouviu falar da lei do silêncio? Chega de susto, São Pedro!

A maior importância do trovão, para mim, é que ele nos remete à nossa pequenez. À nossa desproteção frente a tudo, ao inevitável, ao inesperado. O que tiver que vir, virá. E, se vier, o que será de nós?

Quando ruge um trovão, uns se encolhem. Outros tremem. Há quem chame Iansã. E há os que gritam por Santa Bárbara. Elas têm muitos pontos em comum. São figuras femininas com a capacidade de impor sua vontade, mesmo que tenha um custo.

Toda vontade tem seu custo. E não buscar seus desejos, por acaso também não tem? Ficar sem viver o sonhado não tem um custo mais alto ainda?

Iansã é a orixá dos ventos, das ventanias e tempestades. Do tempo que fecha e aperta o peito na previsão de dificuldades. A mensagem de Iansã? É preciso ventar. Vento areja, tira poeiras, refresca. Traz o que não estava. Leva o que estava. Vento é mudança. Mudança é a própria vida que não se repete nem em um minuto.
Iansã é a orixá do fogo das paixões. É preciso ter paixão por ideias, por pessoas, por nós mesmos. Vida sem fogo é triste cinza. É preciso se deixar queimar, ventar, renovar. É a vida nos descascando, mudando nossa pele para nova etapa.

Não mandamos nos ventos. Da vida não controlamos quase nada. Somos pegos de surpresa, de calças na mão. No susto o tempo todo. Somos jangadas soltas no mar. Mas temos o leme. Temos a vela. Sempre podemos mudar a direção.

Mudar o velho e empoeirado padrão. As ideias que já murcharam e não acendem mais o fogo da paixão. O brilho do olhar é o que nos venta por aí. O que nos aquece a alma. E nos dá lenha nas batalhas do dia a dia.
Um amigo me disse assim:

- Pé frouxo tropeça e cai.

O medo amolece a gente. O passo fica incerto, a gente cai mesmo. Iansã, a orixá destemida, parte ao encontro do que quer. Sabe buscar o que interessa. Ela ensina a pisar firme. Se a vida te ventar, monte nela e voe! Seja pipa, dance no caminho! É preciso saber voar ao sabor do vento.

À essas mulheres guerreiras eu peço: que nos ensinem a guerrear a boa guerra. As batalhas que, verdadeiramente, valham a pena. E a trovejar, quando for necessário. E, quando tudo for tempestade, que nos ponham no colo um pouco. Nos sequem, nos deem abrigo. Porque somos muito medrosos, mas queremos também guerrear.

Mônica Raouf

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Desabafo sobre o amor...



O amor é aquele carinha da sua escola, da primeira série, que te xingava de um milhão de palavrões infantis só porque você tinha os dentes da frente abertos. O amor é aquela caixa de morangos que parecem estar maravilhosos e, quando você abre, descobre que todos os que estavam no fundo estão podres. O amor é aquela seção de calças de cintura alta perfeitas, tamanho 32, que não cabem nem mesmo em modelos. O amor não é justo. E, talvez, o problema resida não no sentimento em si, e sim no timing. 

Duas pessoas, quando se encontram, têm a possibilidade mínima de se encontrarem no mesmo estágio de vida. Não importa se você é magra, loira e tem os olhos azuis, se o cara não tá a fim de namorar agora. Não importa quantos gominhos você tenha na sua barriga malhadíssima, se o outro te acha um saco. 

Conheci muita gente e me apaixonei por cada uma delas - paixão é sim, uma forma mínima de amar, por menor que seja. Conheci gente demais em tempos errados demais. Hoje, percebo o quanto estive errado em cultivar mais expectativas do que a mim mesmo. Descobrir-se é a primeira etapa do processo "amar": amar a si mesmo. Amar quem você é, na essência.

 Decidi aos nove anos de idade que iria ser publicitário. Hoje, percebo o quanto me envergo em caminhos diferentes e alternativos, por poder, livremente, ser o que sou. Cada um de nós deveria, antes de tudo, descobrir-se. Abrir-se ao mundo. Há muito a ser explorado, tanto em sua alma, quanto em seu corpo, quanto em seu bairro - imagina o quanto pode haver no mundo inteiro, então.

 E, o amor (ok, papo de auto-ajuda, mas que jamais deixará de ser verdade) só é possível quando descobrimos que o outro está ali para somar, e não completar. Não podemos enxergar no outro qualidades que sentimos não existir em nós mesmos - o que cheira a inveja - e muito menos esperar que o outro nos trate como uma mãe ou um pai. Carência demais é doença. Agarrar a primeira coisa que se vê só mostra o quão fraco e necessitado você se torna a cada segundo em que está sozinho. 

Desejar a companhia de alguém é uma coisa; imaginar o outro como um escravo particular para curar suas inseguranças é outra. E é por isso, e por tudo que ainda posso ser, que descobri - e, por mais incrível que possa parecer, me apaixonei por esta possibilidade - que não estou pronto para amar. Não estou pronto porque ainda tenho muito a fazer - conhecer o mundo é só o primeiro passo. Sair da sua zona de conforto te traz tanta, mas tanta lucidez que voltar para a caverna torna-se impossível - obrigado, Platão. 

Construo-me com passos leves, calmos e muito - mas muito mesmo - despreocupados. E acho que esse é o melhor conselho que poderei dar a alguém, quando me perguntarem sobre felicidade. Vá ser feliz com você mesmo. A única coisa que te merece é o mundo - não somos prêmios particulares, nem bônus de celular, nem números da Telesena. 

Somos indivíduos que, querendo ou não, doendo ou não, nascemos e morremos sozinhos. Encontrar alguém que, ao invés de nos roubar, queira nos acompanhar nessa jornada, é sua árdua missão particular - recebe-se o que se é refletido. Se atrás de você só tem gente louca, quem está de ponta-cabeça é você (nota particular). Descubra-se. Valorize-se em todos os seus trejeitos. Use algo mais curto (ou mais comprido). Dance. Viaje. E, quando, por poesia - por descuido não, por favor! -, alguém queira ficar, que seja para acrescentar. Porque o amor não é justo. Mas ele há de acontecer, um dia.

Luiz Menezes

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Na vida é preciso limpar armários, amores e almas...



Foto em rede social é vitrine. Puro marketing. Vende uma imagem de sucesso e felicidade deixando o gancho para que o outro se rasgue de inveja e ciúmes. Você mostra o seu melhor. Mesmo que não seja lá muito verdade. Não importa.

Ninguém monta uma vitrine com a mensagem: estou mal, em depressão, triste, falido. Nunca. As vacas podem estar magras, mas as fotos jamais te contarão esse detalhe. Aliás, as fotos te contam das vacas: aquelas que você tem vontade de esganar quando vê penduradas no pescoço do seu ainda amado ex.

Fotos, curtidas, comentários são instrumentos de tortura para almas magoadas e aflitas. Cada descoberta, uma faca afiada cortando a alma ferida. A gente sangra, mas não larga o osso. Fuxica tudo.

Sofre, mas segue pulando de página em página querendo saber quem é a vaca que comentou o post dele. E a nojenta oferecida que lhe mandou beijo. De post em post imaginamos as cenas de romances mais calientes. O ex que era para ser só seu, agora parece manter um harém. Um verdadeiro inferno na terra.

Amores são assim: uns flutuam, outros naufragam. Ficar em barco afundado é uma furada. Está sofrendo? Se sente ligada ao ex, ao passado sem conseguir se libertar? Quer um conselho? Desfaça a amizade com o ser que se foi. Pare de seguir a criatura.

O que ele vai pensar? Que se dane o que ele vai pensar. Pense em você. Ex- parceiros em rede social é como regime com lata de leite condensado na despensa. Claro que não vai dar certo. Não se faz regime com lata de leite condensado na despensa! Nem se bota a fila para andar com o olhar pendurado no facebook do ex. É muito difícil se desvencilhar quando se está tão conectada ao outro.

É preciso coragem para uma tão atitude radical. E, já aviso, vai dar uma sensação de vazio horrível. Além de ser irreversível. Porque voltar, com o rabo entre as pernas, pedindo a amizade de volta é muita humilhação. Nem pensar!

Em compensação, aquela aflição quando a luz verde acende e indica que ele está online, mas não te procura? Essa acaba de vez! Dá um alívio enorme.

Na vida é preciso limpar armários, amores e almas. Sabe aqueles modelitos que você não se desprende porque:

- Quem sabe volta a caber...

Amiga, não vai caber! Seu número agora é outro! Enfrente, jogue fora, saia e arrume um afeto que caiba confortavelmente. Porque relações têm que ser confortáveis, acolhedoras, boas de ficar.

Aperto? Sufoco? Nunca mais! Abra o armário. Jogue fora os velhos amores, velhos hábitos. Parceiros são como roupa! Não usou há mais de seis meses? Desapega. Não o deixe ali guardadinho entulhando seu armário afetivo: jogue fora! Doe! Mande para um brechó. Ligue para o disque-entulho e chame a Comlurb.

Se desfaça das amarras internas que te ligam a um passado que não te cabe mais. Renove seus amores, sua alma e sua vida! Repagine seus afetos, suas propostas de vida! E se permita ser feliz.


Mônica Raouf