domingo, 21 de dezembro de 2014

Se a vida te ventar, monte nela e voe...





Trovões, ainda hoje, me dão medo. É São Pedro fazendo faxina e arrastando móveis no céu? Então ele devia colocar feltro nos pés dos móveis! Porque já não era sem tempo dele perceber que, dessa forma, atrapalha os vizinhos. Já ouviu falar da lei do silêncio? Chega de susto, São Pedro!

A maior importância do trovão, para mim, é que ele nos remete à nossa pequenez. À nossa desproteção frente a tudo, ao inevitável, ao inesperado. O que tiver que vir, virá. E, se vier, o que será de nós?

Quando ruge um trovão, uns se encolhem. Outros tremem. Há quem chame Iansã. E há os que gritam por Santa Bárbara. Elas têm muitos pontos em comum. São figuras femininas com a capacidade de impor sua vontade, mesmo que tenha um custo.

Toda vontade tem seu custo. E não buscar seus desejos, por acaso também não tem? Ficar sem viver o sonhado não tem um custo mais alto ainda?

Iansã é a orixá dos ventos, das ventanias e tempestades. Do tempo que fecha e aperta o peito na previsão de dificuldades. A mensagem de Iansã? É preciso ventar. Vento areja, tira poeiras, refresca. Traz o que não estava. Leva o que estava. Vento é mudança. Mudança é a própria vida que não se repete nem em um minuto.
Iansã é a orixá do fogo das paixões. É preciso ter paixão por ideias, por pessoas, por nós mesmos. Vida sem fogo é triste cinza. É preciso se deixar queimar, ventar, renovar. É a vida nos descascando, mudando nossa pele para nova etapa.

Não mandamos nos ventos. Da vida não controlamos quase nada. Somos pegos de surpresa, de calças na mão. No susto o tempo todo. Somos jangadas soltas no mar. Mas temos o leme. Temos a vela. Sempre podemos mudar a direção.

Mudar o velho e empoeirado padrão. As ideias que já murcharam e não acendem mais o fogo da paixão. O brilho do olhar é o que nos venta por aí. O que nos aquece a alma. E nos dá lenha nas batalhas do dia a dia.
Um amigo me disse assim:

- Pé frouxo tropeça e cai.

O medo amolece a gente. O passo fica incerto, a gente cai mesmo. Iansã, a orixá destemida, parte ao encontro do que quer. Sabe buscar o que interessa. Ela ensina a pisar firme. Se a vida te ventar, monte nela e voe! Seja pipa, dance no caminho! É preciso saber voar ao sabor do vento.

À essas mulheres guerreiras eu peço: que nos ensinem a guerrear a boa guerra. As batalhas que, verdadeiramente, valham a pena. E a trovejar, quando for necessário. E, quando tudo for tempestade, que nos ponham no colo um pouco. Nos sequem, nos deem abrigo. Porque somos muito medrosos, mas queremos também guerrear.

Mônica Raouf

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Desabafo sobre o amor...



O amor é aquele carinha da sua escola, da primeira série, que te xingava de um milhão de palavrões infantis só porque você tinha os dentes da frente abertos. O amor é aquela caixa de morangos que parecem estar maravilhosos e, quando você abre, descobre que todos os que estavam no fundo estão podres. O amor é aquela seção de calças de cintura alta perfeitas, tamanho 32, que não cabem nem mesmo em modelos. O amor não é justo. E, talvez, o problema resida não no sentimento em si, e sim no timing. 

Duas pessoas, quando se encontram, têm a possibilidade mínima de se encontrarem no mesmo estágio de vida. Não importa se você é magra, loira e tem os olhos azuis, se o cara não tá a fim de namorar agora. Não importa quantos gominhos você tenha na sua barriga malhadíssima, se o outro te acha um saco. 

Conheci muita gente e me apaixonei por cada uma delas - paixão é sim, uma forma mínima de amar, por menor que seja. Conheci gente demais em tempos errados demais. Hoje, percebo o quanto estive errado em cultivar mais expectativas do que a mim mesmo. Descobrir-se é a primeira etapa do processo "amar": amar a si mesmo. Amar quem você é, na essência.

 Decidi aos nove anos de idade que iria ser publicitário. Hoje, percebo o quanto me envergo em caminhos diferentes e alternativos, por poder, livremente, ser o que sou. Cada um de nós deveria, antes de tudo, descobrir-se. Abrir-se ao mundo. Há muito a ser explorado, tanto em sua alma, quanto em seu corpo, quanto em seu bairro - imagina o quanto pode haver no mundo inteiro, então.

 E, o amor (ok, papo de auto-ajuda, mas que jamais deixará de ser verdade) só é possível quando descobrimos que o outro está ali para somar, e não completar. Não podemos enxergar no outro qualidades que sentimos não existir em nós mesmos - o que cheira a inveja - e muito menos esperar que o outro nos trate como uma mãe ou um pai. Carência demais é doença. Agarrar a primeira coisa que se vê só mostra o quão fraco e necessitado você se torna a cada segundo em que está sozinho. 

Desejar a companhia de alguém é uma coisa; imaginar o outro como um escravo particular para curar suas inseguranças é outra. E é por isso, e por tudo que ainda posso ser, que descobri - e, por mais incrível que possa parecer, me apaixonei por esta possibilidade - que não estou pronto para amar. Não estou pronto porque ainda tenho muito a fazer - conhecer o mundo é só o primeiro passo. Sair da sua zona de conforto te traz tanta, mas tanta lucidez que voltar para a caverna torna-se impossível - obrigado, Platão. 

Construo-me com passos leves, calmos e muito - mas muito mesmo - despreocupados. E acho que esse é o melhor conselho que poderei dar a alguém, quando me perguntarem sobre felicidade. Vá ser feliz com você mesmo. A única coisa que te merece é o mundo - não somos prêmios particulares, nem bônus de celular, nem números da Telesena. 

Somos indivíduos que, querendo ou não, doendo ou não, nascemos e morremos sozinhos. Encontrar alguém que, ao invés de nos roubar, queira nos acompanhar nessa jornada, é sua árdua missão particular - recebe-se o que se é refletido. Se atrás de você só tem gente louca, quem está de ponta-cabeça é você (nota particular). Descubra-se. Valorize-se em todos os seus trejeitos. Use algo mais curto (ou mais comprido). Dance. Viaje. E, quando, por poesia - por descuido não, por favor! -, alguém queira ficar, que seja para acrescentar. Porque o amor não é justo. Mas ele há de acontecer, um dia.

Luiz Menezes

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Na vida é preciso limpar armários, amores e almas...



Foto em rede social é vitrine. Puro marketing. Vende uma imagem de sucesso e felicidade deixando o gancho para que o outro se rasgue de inveja e ciúmes. Você mostra o seu melhor. Mesmo que não seja lá muito verdade. Não importa.

Ninguém monta uma vitrine com a mensagem: estou mal, em depressão, triste, falido. Nunca. As vacas podem estar magras, mas as fotos jamais te contarão esse detalhe. Aliás, as fotos te contam das vacas: aquelas que você tem vontade de esganar quando vê penduradas no pescoço do seu ainda amado ex.

Fotos, curtidas, comentários são instrumentos de tortura para almas magoadas e aflitas. Cada descoberta, uma faca afiada cortando a alma ferida. A gente sangra, mas não larga o osso. Fuxica tudo.

Sofre, mas segue pulando de página em página querendo saber quem é a vaca que comentou o post dele. E a nojenta oferecida que lhe mandou beijo. De post em post imaginamos as cenas de romances mais calientes. O ex que era para ser só seu, agora parece manter um harém. Um verdadeiro inferno na terra.

Amores são assim: uns flutuam, outros naufragam. Ficar em barco afundado é uma furada. Está sofrendo? Se sente ligada ao ex, ao passado sem conseguir se libertar? Quer um conselho? Desfaça a amizade com o ser que se foi. Pare de seguir a criatura.

O que ele vai pensar? Que se dane o que ele vai pensar. Pense em você. Ex- parceiros em rede social é como regime com lata de leite condensado na despensa. Claro que não vai dar certo. Não se faz regime com lata de leite condensado na despensa! Nem se bota a fila para andar com o olhar pendurado no facebook do ex. É muito difícil se desvencilhar quando se está tão conectada ao outro.

É preciso coragem para uma tão atitude radical. E, já aviso, vai dar uma sensação de vazio horrível. Além de ser irreversível. Porque voltar, com o rabo entre as pernas, pedindo a amizade de volta é muita humilhação. Nem pensar!

Em compensação, aquela aflição quando a luz verde acende e indica que ele está online, mas não te procura? Essa acaba de vez! Dá um alívio enorme.

Na vida é preciso limpar armários, amores e almas. Sabe aqueles modelitos que você não se desprende porque:

- Quem sabe volta a caber...

Amiga, não vai caber! Seu número agora é outro! Enfrente, jogue fora, saia e arrume um afeto que caiba confortavelmente. Porque relações têm que ser confortáveis, acolhedoras, boas de ficar.

Aperto? Sufoco? Nunca mais! Abra o armário. Jogue fora os velhos amores, velhos hábitos. Parceiros são como roupa! Não usou há mais de seis meses? Desapega. Não o deixe ali guardadinho entulhando seu armário afetivo: jogue fora! Doe! Mande para um brechó. Ligue para o disque-entulho e chame a Comlurb.

Se desfaça das amarras internas que te ligam a um passado que não te cabe mais. Renove seus amores, sua alma e sua vida! Repagine seus afetos, suas propostas de vida! E se permita ser feliz.


Mônica Raouf

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A arte de suprimir...


Estava lendo uma longa entrevista com o escritor argentino Julio Cortázar e deparei com sua inspirada declaração sobre “literatura com franjas”, que é aquela cheia de rococós desnecessários. Segundo ele, escritor bom é escritor que se dedica a limpar o texto até chegar a uma estrutura medular. Por isso é tão importante não se dar por satisfeito e reescrever quantas vezes for preciso (para mim, atualmente, tem sido a melhor parte do ofício).

É quando temos aquele monte de palavras na nossa frente e começamos a depurar, polir, retirar tudo o que não agrega, tudo o que não serve. Não raro, é um processo dolorido, pois costumamos nos apegar a uma determinada frase ou a alguma gracinha, mas não devemos mantê-la apenas por capricho: ela pode distrair o leitor e interromper o ritmo da leitura.

É preciso severidade consigo próprio, desapegar daquilo que, mesmo que nos apaixone, compromete o resultado final. Diz Cortázar, e eu humildemente endosso: “Quando corrijo, só uma vez em 100 acrescento algo. Nas outras 99, corrigir consiste em suprimir.

Qualquer um que veja um rascunho meu pode comprovar isso: muito poucos acréscimos e enormes supressões”.Faxinar é uma arte. Vale para textos, armários, gavetas, e também para manias, lembranças, rancores.

A maturidade tem muitas vantagens, entre elas a de deixarmos de ser tão sentimentais com nosso passado e promovermos um arrastão em tudo o que é excessivo. Não há mais tempo para delongas: uma vez conhecendo melhor a nós mesmos, hora de priorizar
a essência – a nossa e a de tudo.

O que não impede que pessoas mais jovens comecem a se habituar desde cedo a não colecionar inutilidades, como amigos falsos, preconceitos e dramalhões. Hoje, considera-se rico aquele que tem 1 milhão de seguidores no Twitter e curtidas no Face, ou aquele que acredita que um sem-número de sapatos, bolsas e tênis acalmará sua ansiedade, afugentando o vazio.

Será mesmo preciso gastar metade da vida até perder essa ilusão? O que nos dignifica não é um guarda-roupa abarrotado ou uma cabeça lotada de neuras. Simplificar, ao contrário do que se pensa, nunca foi provinciano, e sim um luxo que poucos conseguem bancar.

Acumular é que é provinciano. Nem mesmo quando relaciono esse verbo a afeto e dinheiro consigo dar a ele algum crédito, pois acúmulo nada tem a ver com suficiência. Se temos afeto e dinheiro suficientes para viver bem, com paz, conforto e alegria, para que correr atrás de mais e mais? O excesso pode conspirar contra, nos exigindo um esforço extra para manter a roda girando. O suficiente faz a roda girar sozinha.

Tempo esgotado, hora de enviar o texto para o jornal. Desconfio que ele segue com algumas franjas, mas prometo apará-las numa próxima versão.

Martha Medeiros

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Vida de solteiro...




“E a namorada?” Alguém vai me perguntar. Aí vou sorrir e responder: “Estou solteiro!”. E logo depois vem aquela cara de: “nossa, coitadinho”, quando ao meu ver era a hora certa da pessoa me abraçar e pularmos gritando: “Parabéns Campeão!”

Sabe, realmente não entendo essas pessoas que colocam o fato de encontrar uma pessoa como sendo um dos objetivos primordiais da vida. Como se a ordem natural fosse: nascer, crescer, conhecer alguém e morrer. A meu ver, não é assim. 

As pessoas se dizem solteiras como quem diz que está com uma doença grave, alguém que precise de ajuda. Não é nada disso. Existe sim vida na “solteridão”! E das boas. E isso não quer dizer farra, putaria, poligamia ou promiscuidade. Aliás, quer dizer sim, mas só quando você tiver afim. No mais quer dizer liberdade, paz de espírito, intensidade. E olha que escrevo isso com algum conhecimento de causa, já que tenho vários anos de namoro no currículo. De verdade, do fundo do coração, eu estou muito bem solteiro. Acho até que melhor que antes.

Gosto de acordar pela manhã sem saber como vai terminar meu dia. Gosto da sensação do inesperado, da falta de rotina e de não ter que dar satisfação. Gosto de poder dizer sim quando meu amigo me liga na quinta-feira perguntando se quero viajar com ele na manhã seguinte. De chegar em casa com o Sol nascendo. De não chegar em casa as vezes. De conhecer gente nova todos os dias. De não ter que fazer nada por obrigação. De viver sem angústia, sem ciúme, sem desconfiança. De viver.

Acredito que todo mundo precisa passar por essa fase na vida. Intensamente inclusive. Sabe, entendo que talvez essa não seja sua praia. Ou talvez você nunca vá saber se é. Eu mesmo não sabia que era a minha, e veja só você, hoje sou surfista profissional. O que percebo são pessoas abraçando seus relacionamentos como quem segura uma bóia em um naufrágio. Como se aquela fosse sua última chance de sobrevivência.

Eu não quero uma vida assim.

Nessa hora talvez você queira me perguntar: “Mas e aí? Vai ficar solteirão para sempre? Vai ser assim até quando?” E eu vou te responder com a maior naturalidade do mundo: “Vai ser assim até quando eu quiser”. Quando encontrar alguém que seja maior que tudo isso, ou talvez alguém que consiga me acompanhar. E não venha me dizer que aquele relacionamento meia boca seu é algo assim. O que eu espero é bem diferente.

 Quando se gosta da vida que leva, você não muda por qualquer coisa. Então para mim só faz sentido estar com alguém que me faça ainda mais feliz do que já sou, e como sei que isso é bem difícil, tenho certeza que o que chegar será bem especial. E se não vier também está tudo bem sabe? Eu realmente não acho que isso seja um objetivo de vida. 

Não farei como muitos que se deixam levar pela pressão dessa sociedade. Tanta gente namorando pra dizer que namora, casando pra não se sentir encalhado, abdicando da felicidade por um status social. Aí depois vem a traição, vem o divórcio, a frustração e todo o resto tão comum por aí. 

Não, não. 

Me deixa quietinho aqui com minha vida espetacular. Pra ser totalmente sincero com você, a real é que não é sua situação conjugal que te faz feliz ou triste.

 Conheço casais extremamente felizes e outros que estão há anos fingindo que dão certo. Conheço gente solteira que tem a vida que pedi para Deus e outros desesperados baixando aplicativos de paquera e acreditando que a(o) ex era o grande amor e que perdeu sua grande chance. Quanta bobagem. A verdade é que só você mesmo pode preencher o seu vazio, e colocar essa missão nas mãos de outra pessoa e pedir pra ser infeliz.

 Conheço sim vários casais incríveis, assim como tantos outros que não enxergam que estão se matando pouco a pouco. Só peço que não deixem que o medo da solidão faça com que a tristeza pareça algo suportável. 

Viver sozinho no início pode parecer desesperador, mas de tanto nadar contra a maré, um dia você aprende a surfar. E te digo que quando esse dia chegar, você nunca mais vai se contentar em ficar na areia. Desse dia em diante só vai servir ter alguém ao seu lado se este estiver disposto a entrar na água com você.

Rafael Magalhães

domingo, 19 de outubro de 2014

Histórias de amor...



Você vive um amor ou uma história de amor?

Tem diferença, sim. Um amor é a realização plena de um sentimento recíproco. Passa por alguns ajustes, negociações, mas desliza. Pode perder velocidade aqui, ganhar ali, mas não é interrompido pelas dúvidas, não permite a entrada de terceiros, tem a consistência das coisas íntegras, duráveis. O amor, amor mesmo, é uma sorte que se honra, uma escolha em que se aposta diariamente, o amor é algo que nasce e frutifica.

Já uma história de amor é, como diz o termo, uma invenção. Algo para ser contado ao analista, desabafado para os amigos, uma narrativa chorosa e trágica, um acontecimento beirando o folclórico, um material bruto pedindo para ser transformado em obra de arte. Toda história de amor está impregnada de obstáculos que lhe conferem um status de ficção.

Amor proibido pela família, rejeitado pela sociedade, condenado por preconceitos, amor que exige fugir de casa, pegar em armas, trocar de identidade: virou história de amor. Perde-se um tempo enorme roteirizando o dia seguinte. Se fosse amor, simplesmente amor, o dia seguinte amanheceria pronto.

Amor que coleciona mais brigas que beijos, mais discussões que declarações, mais rendições que entrega: virou história de amor. Pode subir aos palcos, transformar-se em filme, faturar na bilheteria: tem enredo. Mas não tem continuidade. Sai de cartaz rapidinho.

Amor que sobrevive à distância, que se mantém através de cartas e telefonemas (permita-me a nostalgia, sobreviver pelo whattsapp não combina com literatura), o amor sem parceria, sem corpo presente, o amor que não se pratica, que não se lubrifica, que enferruja por falta de uso: virou história de amor. Sofrido como pedem os poemas, glorificado pela vitimização, até o dia em que a ausência do outro deixa de ser um ingrediente pitoresco e você descobre que cansou de dormir sozinha.

Amor que exige insistência, persistência, paciência: virou história de amor. Se fosse amor, nada além de amor, navegaria em águas mais tranquilas, não exigiria tanto de seus protagonistas, o entendimento seria instantâneo, sem exagero de empenho, desgaste, sofrimento. Aff. Histórias de amor são fantásticas na primeira parte, tiram o ar, movimentam a vida, mas da segunda parte em diante viram teimosia dos autores, que relutam em colocar o ponto final na saga que eles próprios criaram.

Amor ou história de amor, o que se prefere?

Aventureiros, notívagos, hereges, rabugentos, sedutores, inquietos, fetichistas, insaciáveis, pecadores, estrangeiros, narcisistas, intrépidos, dramáticos, agradecemos cada verso e cada noite mal dormida que vocês deixaram de lembrança, mas um dia a gente cresce e a fantasia cede lugar à sensatez: um amor está de bom tamanho.


Martha Medeiros

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A arte de esquecer...





O livro mais triste que conheço sobre o amor se chama O legado de Eszter, do húngaro Sándor Márai. Quando o li, tive a sensação de que minha vida, como a da personagem, seria destruída pela esperança de um romance irrecuperável. Eszter espera pela visita do grande amor do passado, que a salvará de uma existência de solidão e vergonha. Eu esperava pelo retorno de uma mulher que nunca voltou.

Lembro o livro, o período e a dor como partes de um mesmo corpo. A prosa límpida e hipnótica de Márai ligava a vida da mulher no início do século XX à minha, que se desenrolava às vésperas do século XXI. As personagens e as palavras dele deram àquele momento as cores de uma profunda melancolia, mas a tingiram, ao mesmo tempo, de uma estranha lucidez. Lembro-me de pensar, de forma um pouco dramática, que afundava de olhos abertos.

Fui procurar ontem o livro na minha estante e descobri que não está mais lá. Sumiu, assim como o afeto inextinguível que eu sentia. Alguém levou meu livro embora, ou se esqueceu de devolvê-lo. O tempo dispôs silenciosamente da minha paixão. Diante disso, me ocorre que esquecer é uma benção – ou uma arte, a aprimorar meticulosamente ao longo da vida. Pôr pessoas e sentimentos de lado é permitir que a existência prossiga.

Não há nada que eu gostaria tanto de ensinar aos outros e a mim mesmo como a capacidade de deixar sentimentos para trás. Olho ao redor e vejo gente encalhada como barcos na areia. Homens e mulheres. Esperam pelo passado, embora a vida se espraie em possibilidades à volta delas. Precisam de tempo para se recuperar, mas carecem de luz. Necessitam entender que a dor – embora inevitável – não constitui uma virtude, nem mesmo um caminho. Tem apenas ser superada, para que o futuro aconteça.

A Eszter de Márai vive encarcerada no universo moral e jurídico legado a ela pelo século XIX. Mulher, seu destino era ligado às decisões de um homem, Lajos. Ela espera porque não tem meios de agir. Ser corrompida pela esperança e pelo perdão é o que lhe resta. Sua posição na sociedade consiste numa espécie inexorável de destino.

Não há, no mundo em que vivemos, uma jaula social correspondente a essa. Fazemos nossas escolhas no interior de amplos limites existenciais. Somos inteiramente responsáveis por nossos sentimentos, ou ao menos pelas atitudes que tomamos diante deles. Se decidimos ficar e esperar, se permitimos nos tornar o objeto passivo das manipulações ou indecisões alheias, não há um Lajos a quem acusar.

Ainda assim, construímos prisões mentais à nossa volta. Prisioneiros de uma noção ridícula de amor do século XIX, quando ainda não havia liberdade pessoal, imaginamos que o amor é único e eterno – e que perdê-lo equivale a perder a vida, como um trem que passasse uma única vez numa estação deserta. Nada mais longe da realidade. Nossa vida se abre desde o início em múltiplas possibilidades e se desenvolve em companhia de inúmeras pessoas. Alguns terão papéis importantes e duradouros. Outros serão passagens breves e luminosas, como uma tarde de verão. Todos, com uma ou outra exceção monumental, veremos partir. Nós mesmos iremos embora em incontáveis ocasiões. Nos restará o desapego, como antes só restava a Eszter a resignação.

Por isso, a arte de esquecer é essencial. Ela me parece a mais moderna das sabedorias sentimentais, aquela que mais permite mover-se no mundo como ele é, não como nos fizeram crer que ele seria. Nesse mundo haverá sexo, haverá paixão e, às vezes, haverá amor. É provável que haja desencontro e ruptura e que sejamos forçados a começar de novo, sozinhos. Esse é o ciclo da vida como ela se apresenta no século XXI. Nele, deixar para trás e esquecer é tão essencial quanto reconhecer e se vincular. Consiste no nosso legado sentimental. Ele começou a ser elaborado por tipos rebeldes nos anos 60 e continua a ser refeito hoje em dia. Nada tem a ver com o legado de Eszter, embora este ainda nos ensine e nos comova.

Ivan Martins

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Desilusão..

                                      

Desilusão é uma experiência terrível. Num momento qualquer, você está cheio de esperança. No outro, seu mundo veio abaixo. Como uma repentina bofetada, a desilusão machuca, desnorteia e humilha. É o evento dramático que, na vida amorosa, separa a realidade do sonho, os homens dos meninos e os tolos dos sábios. A desilusão é nosso diploma. Quem não passou por ela é um inocente. Ainda não sabe de nada.

Você, apaixonado, sugere à namorada que talvez seja hora de fazer planos e morar juntos. Ela responde, cheia de dedos, que talvez não esteja assim tão envolvida com você. Pleft!

Encantada com o sujeito, você pergunta, toda bonitinha, se o que rola entre vocês é um namoro – e ele diz, sem hesitar, que também sai com outra garota e não quer compromisso. Pleft!

Depois de cinco anos de casamento, as coisas esfriaram ao ponto de congelamento. Você tem esperança e propõe uma segunda lua de mel – então seu marido conta que tem saído com uma colega, que está apaixonado e vinha se preparando para contar que pretende morar com ela. Pleft!

Com essas histórias, quero dizer, ao contrário das lamúrias frequentes, que desilusão é bom. Quem nos desilude nos abre os olhos e nos descortina o mundo verdadeiro. Por isso, nos presta um grande serviço.

O iludido acredita, essencialmente, que o outro sente por ele o mesmo que ele sente pelo outro. Vive a fantasia de ser amado ou, pelo menos, tem esperança de um dia ser correspondido. É um sonhador que pode passar anos caminhando no interior do seu sonho, vendo apenas o que deseja ver. A desilusão é o despertar. Deveria ser saudada como libertação, mas costuma ser recebida com ressentimento. A pena de si mesmo é maior que a gratidão.

Na verdade, o inimigo é quem nos ilude. Faz mal aquele que, por fraqueza ou piedade – muitas vezes por vaidade – alimenta nossos sentimentos infundados. Quem nos olha nos olhos e diz a verdade merece nosso respeito. Demonstra respeito por nós, ainda que nos magoe.

A verdade, é importante que se diga, nem sempre é nítida. Quando se trata de afeto, somos criaturas confusas, habitadas por dúvidas e contradições. Por isso, mais importante que aquilo ouvimos é o que vemos. Mais importante que sentimentos, são ações. Se o sujeito parece ter por você o maior carinho, mas é sua amiga que ele chama para sair, parece que é da amiga que ele gosta – embora talvez nem saiba. As decisões dele contam tudo que você precisa saber, desde que você as conheça. Quem diz o que sente, mas esconde o que faz, ilude.

Eis uma boa máxima: não me diga o que você sente, me conte o que você faz.

Da minha parte, tendo vivido ilusões e desilusões, prefiro as últimas. Elas me salvaram de vexames profundos, me tiraram de enganos demorados, me abriram portas que eu desconhecia e me puseram no caminho certo. Tem sido assim com todos que eu conheço. Os mais tristes, os mais dignos de piedade, são os que se agarram a ilusões que todos em volta reconhecem, menos eles. A esses faz falta uma desilusão. Uma boa bofetada – pleft! – que os devolva de volta à vida.

Ivan Martins

sábado, 23 de agosto de 2014

O invariável...


                               


Outro dia escutei uma mulher separada decretar o fim da mesmice: resolveu se esbaldar na vida. Disse ela que não queria mais saber de relação fixa e que saía quase todas as noites a fim de se divertir apenas. Tem conhecido muitos caras diferentes, com alguns chega às vias de fato, e é isso aí, adeus à monotonia.

Mas o olhar dela não soltava faíscas, ao contrário, parecia bem opaco.

Naquele momento, lembrei uma frase do blog de um amigo paulista, o Eduardo Haak. Ele recentemente escreveu: “Nada é mais invariável do que as supostas variedades”. De primeira, quando li, me bateu uma estranheza, fiquei na dúvida se ele estava sendo irônico ou o quê, até que, ouvindo a moça baladeira contar de seus recordes de revezamento, me dei conta de que a situação dela era ilustrativa: toda variação que se torna sistemática também é mais do mesmo.

Ou seja, nada impede que a busca de um amor a cada sexta-feira se torne uma situação igualmente sujeita ao tédio. Virar refém da variedade pode ser uma atitude tão rotineira quanto dedicar-se a uma única pessoa por anos – arrisco até dizer que, ao dedicar-se a uma única pessoa, a chance de se ter uma vida mais dinâmica dispara.

Por quantas fases passa uma relação? O frio na barriga inicial, a paixão febril, as surpresas a cada nova revelação, as descobertas feitas a dois, a aproximação dos corpos, a intimidade cada vez maior, os amigos e a família agregando-se, cada viagem uma lua de mel, a troca de confidências, as diferenças aparecendo, os acordos feitos para manter a coisa funcionando, ajustes necessários, a paixão virando amor, a segurança da companhia um do outro, as fotografias se acumulando, planos sendo feitos a longo prazo, a primeira briga, as saudades, a consciência de que aquela pessoa é essencial, o reatamento, as juras, os cuidados para que não desande nunca mais, todos os cinemas, cafés da manhã, leituras compartilhadas, risadas, os comentários de fim de festa, as piadas internas, a confiança, os cafunés, os pedidos de conselho, a hora de ser amigo, a hora de ser bandido, o sexo evoluindo, o amor se fortalecendo, a passagem do tempo trazendo novos desafios, o orgulho pelo que está sendo construído, os estouros, os gritos, os beijos de novo... ufa, alguém aí me alcança um copo d’água?

Amar não é para amadores, e quando a relação é honesta, sólida e os protagonistas têm algum tutano, duvido que o enfado dê as caras.

É a variedade de parceiros que evita o aborrecimento? Nunca funcionou comigo. Nem no amor, nem fora dele. A alucinada atualização de notícias, a velocidade das redes sociais, os dias pulsando em ritmo supersônico, tudo o que não permite foco e entrega, hoje em dia, só me causa bocejos. Aprofundar-se é que é a verdadeira vertigem.

Martha Medeiros

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Emocionalmente indisponível...



                                

É fácil culpar os outros, mas quem está realmente pronto para um relacionamento?
Quando se trata de romance, todo mundo acha que está pronto. O cara que acaba de se separar, a garota que nunca superou o ex, aqueles que nunca conseguiram manter um relacionamento estável. Ao contrário dos empregos e dos vestibulares, para os quais as pessoas se preparam, quando se trata de relacionamentos, todo mundo nasce sabendo. Ou acha que nasce sabendo. Na verdade, se andassem com placas no peito, revelando seu verdadeiro estado emocional, muitos trariam as palavras “emocionalmente indisponível”.

Ao contrário do que gostamos de pensar sobre nós mesmos, ou sobre os outros, ninguém está pronto, em todos os momentos, a começar um relacionamento. Pense em quem você conhece bem: você acha que estão livres para gostar de alguém ou preparados para que alguém goste deles? A resposta, em boa parte dos casos, costuma ser não. Assim como os carros em movimento, nossas portas emocionais costumam andar fechadas. Por diferentes razões.

A primeira, óbvia, é nossa terrível imaturidade. Quando se trata de abrir nossa intimidade, ou de mergulhar na intimidade dos outros, somos uns bebezões. Nosso corpo cresce rapidamente, aprendemos muito na escola, mas nossas emoções e sentimentos não acompanham. Evoluem lentamente, em ritmo próprio, ao longo da vida.

Em certo momento, ainda jovens, descobrimos o amor. Com esse enorme sentimento, não vem um manual sobre nós mesmos – ou sobre o outro – que permita viver um relacionamento. Por isso sofremos tanto, por isso brigamos, por isso nos sentimos e agimos como adolescentes, mesmo aos 30 ou 40 anos. A verdade é que aprendemos, o tempo inteiro, como transformar afeto em relacionamento. Não é fácil. Pode demorar a vida inteira. Muitos de nós nunca aprendem o suficiente.

Outra dificuldade comum são as cicatrizes. Você vê a pessoa na rua, fala com ela, transa com ela até, e não tem noção das dores com que ela convive. Não sabe o estado de confusão e tumulto daquela cabeça. Somos todos assim, num grau ou noutro. Alguns são piores. Há quem mal se aguente. Sofre com neuroses, traumas, coisas ruins que a gente não enxerga mas estão lá, queimando. Às vezes, um contato afetuoso ajuda. Outras vezes, só exaspera os sentimentos de desconforto. De qualquer forma, não está pronto. Não interessa o estado civil ou a idade. Precisa cuidar da cabeça, tratar de si mesmo, lamber as feridas – antes de conseguir se relacionar de verdade. É uma das boas razões para fazer psicanálise. As conversas com os psicólogos apressam o autoconhecimento. Ajudam a lidar com as cicatrizes emocionais que atrapalham as relações afetivas. As pessoas também evoluem sozinhas, claro, pela passagem do tempo e pelo efeito salutar das experiências. Costuma demorar mais.

Se a gente deixar de lado as cicatrizes e a imaturidade, restará um único grande motivo que as torna emocionalmente indisponíveis: o passado. Muitos são prisioneiros de paixões inacabadas. Pense em você, pense nos seus amigos. Por quanto tempo, por quantos anos, você não esperou aquela mulher voltar, mesmo secretamente? E a sua amiga que só tinha olhos para um cara, que não estava mais interessado? É óbvio que gente nesse estado de sofrimento não pode entrar numa relação. Quem está assim precisa de tempo para sarar e liberdade para cometer novos erros. Não há mágica. Não há caras ou mulheres sensacionais que resolvam. A vítima tem de decidir sozinha que deseja sair do vício, que não quer mais sofrer ou esperar. Um dia, depois de frequentar um monte de gente sem se envolver, alguma coisa misteriosa acontece, e o passado – finalmente – fica para trás, permitindo que o futuro comece. Nesse dia, a placa no peito pode mudar para “emocionalmente disponível”.

Ivan Martins

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Frente a frente...

                       

Muitos de nós, talvez a maioria, gastam mais tempo nas redes sociais que nas relações sociais de verdade. É só fazer as contas. Interagimos com dezenas de pessoas por dia pelo Facebook, gastamos horas nisso, mas quase não encontramos ninguém pessoalmente. A situação é tão cômoda, envolve tanta gente, que essa forma de relacionamento à distância – por meio do celular ou do computador - tem se tornado a vida social real, enquanto a outra, que só ocorre quando as pessoas se encontram frente a frente, toma ares de coisa alternativa e eventual, uma espécie de universo paralelo que transcorre à margem daquilo que realmente importa.

Obviamente, essa situação tem consequências. Uma delas, terrível, é a redução das nossas habilidades sociais, como seduzir olhando nos olhos do outro.

Ontem, não pela primeira vez, uma amiga se queixava comigo da dificuldade em fazer engrenar, pessoalmente, um xaveco que anda rolando há semanas, e muito bem, pela internet. Nas conversas pelo Facebook, vai tudo às mil maravilhas. Quando ela encontra o sujeito na vida real, é um desastre. Ele parece ausente, não dá impressão de estar interessado. Fica uma estranheza entre eles que não existe nas conversas virtuais. Minha amiga acha que talvez ele não seja o cara. Acho que ele talvez seja viciado em redes sociais e não saiba como se comportar diante de uma mulher de carne e osso. Ou, talvez, seja ela que perdeu o jeito com a realidade.

Exceto por meio dúzia de seres humanos desenvoltos e privilegiados, esse negócio de sedução frente a frente nunca foi fácil. Somos criaturas tímidas que convivem, 24 horas por dia, com a contradição entre a fúria dos sentimentos e a inconveniência social de expressá-los. Quanto mais atraente nos parece a moça, mais sem jeito ficamos na presença dela. Quanto mais sensual o sujeito, mais a garota evita que ele perceba como ela se sente. São comportamentos adolescentes que, de alguma forma, nos acompanham a vida toda. Por isso, álcool e drogas são tão populares. Eles reduzem a distância entre nossos sentimentos e nosso comportamento.Permitem que as relações fluam com alguma naturalidade. Em direção ao sexo, naturalmente.

A comunicação de sentimentos à distância sempre foi mais fácil. A ausência do olhar do outro nos libera. Nos tornamos mais atrevidos e espirituosos quando não somos observados. Sem a possibilidade de censura do olhar, a comunicação intelectual e sentimental fica mais intensa. As inibições refluem. Dão lugar a ousadias verbais que só os bêbados e os grandes sedutores se permitem em pessoa. Por escrito, todo mundo é um pouco Don Juan – e isso não é nenhuma novidade.

No século XIX, quando a sociedade mal permitia que os jovens se falassem, os apaixonados trocavam cartas ardentes. Elas fazem parte da biografia de qualquer instruído do período. Nem seria preciso ir tão longe. Nos anos 1990, quando o e-mail tornou-se popular, surgiram os primeiros relacionamentos por internet. As pessoas voltaram a se apaixonar por escrito de uma forma que haviam parado de fazer por carta nos anos 1970. Com a vantagem de poder trocar mensagens instantaneamente, uma dúzia de vezes ao dia, num tom cada vez mais exaltado. Todo mundo com mais de 40 anos teve uma paixão dessas na virada do milênio. Quem não teve pode tentar recuperar agora, usando as redes sociais. É basicamente a mesma coisa, com menos texto e muitas fotos. Ou vídeos. O lance essencial dessas relações é a distância.

O problema, como a minha amiga e milhares como ela descobriram, é que a relação virtual pode se tornar o formato verdadeiro da relação. As pessoas se habituam àquela comunicação descarnada e já não conseguem se sentir à vontade na presença física do outro. Inibições iniciais e naturais parecem intoleráveis a quem trocava intimidades ou gracinhas de alta voltagem. O outro perde a graça pessoalmente, porque não é o desinibido que costuma ser no Facebook. Ou o espelho compreensivo que parecia ser no WhatsApp. A pessoa de verdade não está à altura da idealização que era construída. E ela mesma percebe isso. Daí o choque e o desencontro.

Essa é uma explicação para casos como minha amiga. Outra, mais estranha, é que há goste da relação virtual e não goste da relação física. É uma perversãozinha moderna. Na internet, a garota ou o cara podem se relacionar com uma dezena de pessoas, na maior intimidade. Sem problemas e sem inibições. Aí acontece uma inversão: a pessoa sai, uma vez por semana, apenas para fazer contatos visuais, explorados depois, e verdadeiramente, pelas redes sociais. Essas são as relações que lhe importam. Os encontros pessoais viram aquele momento esquisito, em que você cruza alguém com quem andou transando escondido e não cabe na sua vida pública. Uma espécie de saia justa.

Para quem não está nessa categoria de pervertido virtual, e gostaria de viver fisicamente suas relações à distância, recomendo moderação no uso da internet. Não permita que ela se torne o lugar essencial das trocas. Não deixe que a intimidade virtual avance a ponto de fazer do contato pessoal um anticlímax. Marque logo um encontro, enfrente a inibição de olhar nos olhos do outro, confronte a timidez e se permita superá-la. Aventure-se, corra riscos, sofra decepções reais. Essencialmente, saia da zona de conforto das conversas de Facebook. Elas são divertidas, viraram parte da rotina e nos parecem essenciais. Mas, como dizia o título de um filme antigo, são apenas uma imitação da vida. A vida de verdade começa quando a gente sorri – e alguém nos sorri de volta. Frente a frente.

Ivan Martins

terça-feira, 1 de julho de 2014

Um homem Inteligente Falando das Mulheres!!!



O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está a fêmea da espécie humana.
Tenho apenas um exemplar em casa, que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém. Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha ‘Salvem as Mulheres!’
Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam:

1. Habitat
Mulher não pode ser mantida em cativeiro. Se for engaiolada, fugirá ou morrerá por dentro. Não há corrente que as prenda e as que se submetem à jaula perdem o seu DNA. Você jamais terá a posse de uma mulher, o que vai prendê-la a você é uma linha frágil que precisa ser reforçada diariamente.

2. Alimentação correta
Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem, sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro. Beijos matinais e um ‘eu te amo? no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório servir um prato especial.

3. Flores
Também fazem parte de seu cardápio ? mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.
4. Respeite a natureza
Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação? Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso

5. Não tolha a sua vaidade

É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar muitos sapatos, ficar horas escolhendo roupas no shopping. Entenda tudo isso e apoie.

6. Cérebro feminino não é um mito

Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram!). Então, aguente mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de decoração. Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. E não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres.

7. Não faça sombra sobre ela

Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado… Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.

8. Aceite:

Mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar.
O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.

E meu amigo, se você acha que mulher é caro demais, vire GAY.

Só tem mulher, quem pode!

Luiz Fernando Veríssimo

domingo, 22 de junho de 2014

Pior que sofrer é não resolver...



- Só brigue com quem vale a pena. Nunca para ter razão.
- Poupe energia, sorria e finja que não entendeu
- Afeto bom é inteiro: sem quinas, nem gambiarras.
- Afeto bom não emperra, não engancha. Apenas flui.
- No trânsito ou você desvia ou se amassa. Na vida é assim também. Desvie.
- Se você descobriu, não cubra de novo como se não tivesse visto.
- Verdades e verduras podem não ser saborosas. Mas fazem bem à saúde.
- Silêncios podem ser grande economia de energia e tensão.
- Deixe ir o que não serve. Descarte.
- Algumas portas só abrem uma vez. Pense rápido.
- Desentulhe tralhas e afetos. Vida é muito mais do que isso.
- Atitudes podem doer. Dói, mas passa. Você já sabe disso. Pior que sofrer é não resolver.

Mônica Raouf

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Relacionamento..



Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim.
Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro…
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo……
- Cinco anos…que pena…acabou….
- é… não deu certo…

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes voce não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro ?

E não temos essa coisa completa.
Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona…
Acho que o beijo é importante… e se o beijo bate…se joga…, se não bate….mais um Martini, por favor…e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não brigue, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar…. ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.

Nada de drama.

Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?
O legal é alguém que está com você, só por você. E vice versa.
Não fique com alguém por pena.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós.
Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói.
Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração… Faz parte.
Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.
E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse….
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta.

É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar… Ou se apaixonar… Ou se culpar…
Enfim…quem disse que ser adulto é fácil ??

Arnaldo Jabor

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Relacionamento x Excesso de opção...



Batendo um papo hoje (pelo whatsapp, não pelo telefone, como antigamente), levantei esta questão e me inspirei a escrever!

Como é difícil, nos tempos atuais, manter um relacionamento!!! Sim...porque a cada, sei lá, 100 casais que eu vejo se formar, uns 3 vão adiante...se muito!

Aí eu leio algumas bobagens (desculpem a sinceridade), tais quais: "acabou o amor". Que papo torto, o amor não acabou! Ele ficou banalizado, talvez. Não vou citar nomes, mas vejo menina que namora, mas no "inbox" fica dando mole pra amigo meu...e depois de dizer coisas do tipo "vamos marcar um chopp, mas precisa ser na terça", lá está ela postando foto com o namorado com dizeres do tipo "amor pra toda vida". Sim...é isso aí! Não tô sendo machista, o contrário também ocorre, só usei exemplo que vivenciei.

Uma das causas disso é o "descrédito" no sentimento do próximo. A pessoa está lá, namorando, "feliz", mas fica antenada nas "possibilidades", não se entrega por completo!
É tipo: "te amo mas se vc der um mole já tenho uma fila de espera atrás de você". As pessoas buscam as soluções mais práticas, não se faz mais casal como antigamente, aonde quando algo dava errado, lutava-se pra superar. Não é só com o amor, é com tudo. Quem aqui leva microondas pra consertar??? Quebrou, compra outro! Tá tudo errado!!!

Dentre tantas vertentes, tantas possíveis causas, na minha visão, está o "Excesso de Opção"...
É, amigos, aqui que o bicho pega...

Há muito tempo atrás conheci uma menina...meu coração disparou, eu era um adolescente...foi arrebatador...foram 9 anos de namoro, de devoção...admiração...amor...
Lembro que o telefone dela tinha 7 digitos...faz tempo...rs...nem sonhava com celular!
Éramos "crianças"...mas durou NOVE anos...mas SÓ FOI POSSÍVEL porque não tinha orkut, facebook, twitter, celular, sms, whatsapp, email, par perfeito, badoo, eharmony, instagram, wechat, msn, bate papo da uol, tinder e nenhuma destas porras!!! rsrsrs

A EVOLUÇÃO necessária e, que amamos, trouxe a INVOLUÇÃO das relações interpessoais...ou das intrapessoais? Aposto na segunda opção...porque as pessoas parecem mesmo é não saber se comunicar consigo...não sabem o que de fato querem!

Hoje em dia, as coisas mudam numa velocidade tão escrota, que fica difícil acompanhar!
Antigamente você tinha o telefone fixo e o endereço da pessoa. "Quer falar comigo, me manda uma carta!".

Pensa comigo:

O casal se conhece, se curte, se conquista, se apaixona, se ama...vive bem, caminhando e construindo uma história a dois. Todos, TODOS, querem isso! Ou quiseram um dia! Ou vão querer! Mas as pessoas trabalham fora, malham, praticam atividades físicas, fazem cursos, pós, etc...conhecem cada vez mais pessoas. Isso faz com que elas tenham muitos contatos! E isso é genial!!! E com a evolução, veio a "individualidade" e suas "contradições". Raros são os casais em que um pega o celular do outro. Raros são os casais em que um sabe a senha do facebook ou do email do outro. Raros, inclusive, os casados que têm conta corrente conjunta...
Mas isso é normal hoje! Mais raro ainda os casais aonde um foca de verdade no outro. As mulheres se igualaram, traem da mesma forma...ou mais...sei lá, parece um lance de "tirar o atraso da história evolutiva da sociedade", como se "todo homem fosse igual"...mas e aí eu pergunto: as mulheres são diferentes?
Hoje todos são iguais...

Todos querem amar...tipo, a grande maioria das mulheres e, arrisco dizer, também dos homens, quer, em uma certa idade, casar, ter filhos, criar sua própria família com êxito.
Dar continuidade. Mas é igual querer ganhar na mega-sena. Todos querem...mas todos jogam??? Existe uma diferença enorme entre querer e "querer". Sempre queremos aquilo que parece mais correto. Mas fazemos por onde? Quantas pessoas você conhece que nunca foram infiéis??? Desculpem, amigos, mão no fogo só coloco por um ou dois...e pior, ambos são homens!
rsrsrs

Não critico a mulherada, eu acho que tem que ser isso mesmo, elas são iguais, na verdade, superiores. Amadurecem antes, são mais objetivas e melhor: não vivemos sem elas!

Sabe o que é legal nisso tudo? Aquela FDP que "roubou" seu namorado, minha querida, também já foi corna...ou irá ser! Então a culpa é nossa mesmo, porra!
Meu camarada, se tu fica lá, assediando a mulher do cara, só à espreita da primeira fragilidade do casal, você contribui pra ele ser sacaneado, mas um dia alguém vai fazer isso com você também!
Círculo vicioso, seria o termo!

O instituto da "família" está falido??? Salvam-se raras exceções??? O mundo tá perdido???

Porra nenhuma! Eu acredito SIM que no meio de tanta sujeira, de tanta escrotidão, ainda existam pessoas com sentimentos nobres. E mais, não sei se é otimismo ou excesso de fé, mas me incluo entre os que têm/terão uma pessoa assim. E se eu posso, você também deveria poder...

Então, não chore por pessoas que não te querem...não almeje pessoas que não irão te querer...olhe ao seu redor...abaixe um pouco a guarda...pense no que é de fato primordial pra você...pense aonde você desejaria estar daqui a 6 meses, daqui a 1 ano...daqui a 3 anos...descubra se o caminho que você está trilhando te leva nesta direção...se a resposta for "não", tome as rédeas da sua vida, deixa de ser inerte e vá em busca do seu sonho!

E mais, não banalize as palavras...nem os sentimentos...só "ame" quem vc de fato amar...só planeje, com quem de fato vc quer ficar...só se dedique, a quem vc de fato quer conquistar!

Rodrigo Castanheira

terça-feira, 13 de maio de 2014

Cadê o beijo na boca?


                               

Entre as várias coisas que acontecem depois que a gente se casa, há uma, chatíssima, que eu nunca vi discutida: os beijos na boca terminam. É isso mesmo. Você viu seus amigos casados se agarrando como faziam antigamente? Quando foi a última vez que você e seu ilustre marido trocaram um beijo de língua sensual e demorado? Se foi no mês passado, está tudo bem. Se você nem consegue se lembrar, não se assuste. Parece ser assim com todo mundo. A escritora americana Nora Ephron, que viveu até os 71 anos e teve três casamentos, disse que acontece com todos os casais.

Eu me pergunto por que é assim. O sexo depois do casamento se torna menos frequente, mas a qualidade da transa aumenta muito. Com a intimidade, as pessoas ficam mais à vontade, perdem a vergonha e começam a fazer e dizer o que gostam. Tudo se torna mais intenso e mais profundo. Melhora, enfim.

Com o beijo, não. Eles são longos e molhados no início, e repetem-se o tempo todo. Funcionam, no frescor da paixão, como a forma mais intensa e direta de preparação ao sexo. Depois somem. Reaparecem mornos de ternura no dia de aniversário ou cegos de desejo quase no clímax do sexo. E é só. Aquele beijo apaixonado e comovido que se trocava no meio da rua desaparece como os pares de meia, em algum lugar secreto do guarda-roupa do casal.

Nem precisa dizer como os beijos fazem falta, né? É provável que não exista nada tão íntimo. Sei que a garotada anda fazendo um esforço heróico para banalizar essa manifestação de intimidade humana, mas eles não conseguirão. Beijar 10 ou 20 na mesma noite equivale a não beijar ninguém. A mistura de todas as bocas não soma, emocionalmente, uma única boca bem beijada. Para usufruir um beijo plenamente é preciso desejá-lo com antecedência, é preciso querer a pessoa que está em volta daquela boca. Há uma parte física e uma parte emocional nas línguas que se tocam. A física é óbvia, mas é a emocional que dirige o processo e faz disparar o coração, assim como os outros sistemas físicos de preparação. Quando você beija alguém que deseja, alguém que já está na sua imaginação, o beijo equivale a abrir uma porta para dentro da pessoa, e de você mesmo. Pode-se ficar três horas ou três semanas pensando naquele momento. Um beijo anônimo não leva a lugar nenhum, porque a porta que ele abre não tem endereço.

Beijos fazem tanta falta durante o casamento que a primeira coisa que as pessoas fazem depois de se separar é beijar na boca, ardentemente. Sexo elas tinham, mesmo num casamento arruinado. Mas beijo na boca, não. Esse tem de ser resgatado, reconquistado, celebrado com champagne. Quem passou muito tempo sem beijo na boca sabe como é gostoso voltar a encostar um corpo na parede e beijar com pressa e sem limite. Se você estiver encantado pela pessoa, não há nada melhor. Mesmo o sexo que vem depois talvez não equivalha, emocionalmente, a esse momento de conquista e de aceitação. O beijo, mais até que a penetração, oferece a forma mais direta de expressar ternura. Eu abro a minha boca e me ofereço sem barreiras, eu aceito você dentro de mim, com afeto e com luxúria. Não é à toa que as prostitutas não beijam na boca. Há coisas que o dinheiro não compra.

Eu tenho poucas dúvidas de que os beijos estão por trás da maior parte dos casos de infidelidade. Depois de um tempo de estabilidade, quando os beijos já sumiram da relação, tudo com que o sujeito ou a mulher sonham, às vezes literalmente, é estar nos braços de alguém que se deseja, beijando de forma sôfrega e apaixonada. O sexo nas relações clandestinas muitas vezes não passa de um cenário elaborado em que a peça de satisfação essencial é o beijo longo e molhado que se dá no amante, aquele que deixa os joelhos moles e faz o corpo estremecer.

Não sei se existe remédio para a falta de beijos nas relações duradouras. Talvez seja um exagero de romantismo pedir que eles persistam. Pode ser que gente que dorme junta, discute sobre o lixo da cozinha e racha o seguro de saúde perca a vontade de fazer certas coisas. Haveria uma troca: eu ofereço a minha presença, minha ajuda e a minha lealdade, mas não terei mais vontade de beijar você. Parece justo?

De uma coisa, porém, eu estou seguro – as pessoas não deveriam abrir mão dos beijos e nem permitir que a falta deles empobreça seu casamento de uma forma irremediável. Quando o casal perceber que os beijos sumiram, talvez seja hora de inventar alguma coisa capaz de recuperá-los. Sexo morno é fácil de esquentar. De vídeos pornôs a casas de suingue, há uma indústria especializada em oferecer novas formas de desejo aos casais que estão se repetindo. O beijo talvez seja diferente. Ele contém uma dose elevada de romantismo e se nutre de um erotismo mais sutil. Para beijar seu par como antes, talvez seja preciso olhar para ela ou para ela de uma forma nova, como se vocês tivessem acabado de se conhecer. Isso é possível? Talvez criando situações novas, em cenários novos, com gente nova ao redor. Vale a pena o esforço? Eu acho que vale. Muitos casamentos bacanas acabam porque as pessoas passam tempo demais discutindo e tempo de menos se beijando. Qualquer coisa que ajude a inverter essa situação deve ser bem-vinda.

Ivan Martins


sábado, 26 de abril de 2014

Meus queridos erros...



                     


Uma das coisas peculiares da vida real é que nela é difícil separar os acertos dos erros, mesmo com a distância do tempo. Nos filmes, nos livros, ou em qualquer outra forma de narrativa ficcional, a gente sabe quando os personagens estão a ponto de cometer uma grande burrada. Os eventos se alinham de tal forma que se nota que aquele momento - ou aquela pessoa – é decisivo para o futuro da história. A vida não é assim.

Na vida, a gente nem sabe se está numa comédia ou numa tragédia. Os grandes eventos passam disfarçados de coisas banais e as pessoas de grande importância entram em cena sem que a música tema as anuncie. Nós fazemos escolhas decisivas, de forma instantânea, sem ter a menor ideia de como a historia vai acabar. Ou pelo menos em que direção deveria se encaminhar. Assim, de olhos bem fechados, cometemos erros enormes, que com o correr do tempo se revelam acertos essenciais. Podendo também ocorrer o contrário.

O certo é que não sabemos o que estamos escolhendo. É certeza, também, que não há certo ou errado absoluto. Existe apenas a vida em movimento. Ela nos carrega na direção indicada por nossas escolhas como barquinhos de papel na corredeira. Nessa viagem, em que o poder de controle é tão pequeno, mais importante que o destino talvez seja a aventura.

Hoje em dia, lembro com carinho até de pessoas que me fizeram sofrer. Talvez seja assim com todo mundo. No momento da ruptura ou do abando, quando o mundo parece desabar ao nosso redor, as escolhas que nos levaram àquela pessoa parecem desafortunadas. Melhor seria jamais ter conhecido. Melhor seria nem estar vivo eu dizia. Bobagem. Algum tempo depois, sem que a gente perceba, o sentimento vai virando outra coisa. A percepção sobre aquele momento e sobre aquela pessoa vai se transformando. Os traumas ficam, mas a ventura e a desventura daquele afeto se incorporam à vida como elemento essencial. O julgamento perde o sentido. Aquilo foi um acerto ou foi um erro? Aquilo foi bom ou foi mau? Não interessa. Apenas foi, e isso é o mais importante.

Quando a gente dá um passo, ou toma uma decisão, abrem-se diante de nós um leque de novas possibilidades. Esse é um fato essencial da vida, embora fartamente ignorado. Nós somos condicionados a pensar no futuro como extensão passiva do presente, como um mero prolongamento do momento atual, mas o futuro é qualquer coisa menos isso. Cada gesto, cada forma de ação, cria o seu próprio futuro – e nele vamos nós, com nosso valoroso barquinho de papel em meio à corredeira.

Ao nos envolvermos com alguém diferente de nós, morremos de medo. Aquilo nos parece inadequado. Uma pessoa tão jovem, tão impulsiva, tão popular. Um erro, certamente. Mas não. Com essa pessoa desconhecida construímos uma densa intimidade. Com ela descobrimos novos hábitos, novas maneiras de olhar o mundo, formas diferentes de ser feliz. Rimos, dançamos, erguemos memórias. Mesmo que o romance não dure, mesmo que o final nos entristeça, (foi um erro terrível, dizemos a nós mesmos), sua consequências permanecem, todas boas. Nas ideias, nas roupas, nos amigos, até na imagem que fazemos de nós mesmos. Então onde estava o erro? Não havia erro. Houve apenas um momento lindo, que acabou.

Eu poderia escrever sobre assunto para sempre. Acho que ele define um dos aspectos essenciais da vida. Mas vocês não merecem tanta chatice. O essencial, eu acho, é perceber que os nossos relacionamentos não se dividem entre certos e errados. Ou entre erros e acertos. A vida é mais complicada e mais simples do que isso. Nela, as coisas se misturam e se transformam. O resultado final não define a importância da partida. Mais vale a experiência. Mais vale ter vivido do quer ter estado certo à margem da vida. Pelo menos é o que eu acho.

Ivan Martins

sexta-feira, 14 de março de 2014

Concluindo etapas, encerrando ciclos...

                                  

É importante, sempre, saber quando termina uma etapa da vida. Se você insiste em permanecer nela, além do tempo necessário, perderá a alegria e o sentido de tudo o mais. Encerrando ciclos, fechando portas, ou encerrando capítulos, como queira chamar, o importante é poder encerrá-los, deixando ir momentos da vida que se concluíram.

Terminou o seu trabalho? Acabou a sua relação com o parceiro? Você já não vive mais numa determinada casa? Deve fazer uma viagem? A amizade com alguém terminou? Roubaram você em sua casa? Morreu um ente querido? Quebrou ou estragou um objeto de estimação? Você descobriu que o mentor espiritual que seguia era uma fraude? Você pode passar muito tempo do seu presente remoendo os porquês, tentando devolver a cassetada que levou ou mesmo procurando entender porque aconteceu tal fato em sua vida. O desgaste vai ser infinito, pois na vida, você, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos temos de ir encerrando capítulos, virando a página, concluindo etapas ou momentos da vida e seguir adiante.

Não podemos estar no presente com saudades do passado. Nem sequer perguntando-nos por quê? O que passou, passou, e temos que soltar, desprender, não ficar preso ao que passou. Não podemos ser crianças eternas, nem adolescentes tardios, nem empregados de empresas que já não existem mais ou que não vão te dar mais conhecimento. Os fatos passam e temos que deixa-los ir! As mudanças externas podem simbolizar processos interiores de superação. Deixar ir, soltar, desprender-se. Na vida ninguém joga com cartas marcadas temos que aprender a perder e a ganhar. Temos que deixar ir, virar a página, viver só o presente. O passado já passou. Não espere que lhe evolvam o passado, não espere reconhecimentos, não espere que em algum momento se dêem conta de quem é você. Apesar do tempo não ser linear, a vida está para a frente, nunca para trás. O que passou deve servir apenas para que continue a viver com mais sabedoria.

Se você anda pela vida deixando portas abertas, nunca poderá desprender-se nem viver o hoje com satisfação. Necessidade de esclarecimentos, palavras que não te disseram, silêncios que o invadiram: se puder enfrentá-los já e agora, faça-o! Se não, deixe-os ir, encerre os capítulos. Diga a você mesmo que não, que não deve voltar. Mas não por orgulho, nem por soberba, mas porque você já não se encaixa aí, nesse lugar, nesse coração, nessa habitação, nessa morada, nesse escritório ou nesta profissão. Na vida nada se mantém quieto, nada é estático. É saudável mentalmente ter amor por você mesmo, desprender-se do que já não está em sua vida. Recorde que nada nem ninguém é indispensável. Nem uma pessoa, nem um lugar, nem um trabalho, nada é vital para viver, porque: Quando você veio a este mundo, chegou sem qualquer adesivo ou etiqueta. Portanto, é apenas costume viver apegado a um adesivo ou etiqueta. E é um trabalho pessoal aprender a viver livre, sem o adesivo ou etiqueta humano ou físico que hoje lhe dói deixar ir. Mas encerre, feche, limpe, jogue fora, oxigene, desprenda-se, sacuda, solte.

Existem muitas palavras que significam saúde mental e qualquer que seja a que você escolha lhe ajudará definitivamente a seguir adiante com tranqüilidade.

Douglas Duran

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Para que serve uma relação?


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   Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

   Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

   Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo. 

   Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.  

   Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem corpo um do outro quando o cobertor cair.
   
   Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro ao médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

Drauzio Varella

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O ingrediente secreto...




A intimidade é inviolável. Saber o que se passa no coração alheio é uma pretensão tola. A maneira como sentimos amor, como lidamos com sexo, como reviramos na cama sob o peso de uma lembrança – ou de um corpo – constituiu uma reserva indevassável de individualidade. Apenas a arte, a psicanálise ou a sinceridade dos amigos nos aproximam, precariamente, da verdade dos outros. O resto é empáfia.

Na semana passada, depois de ver pela segunda vez o filme Ninfomaníaca, fui assaltado pela vontade de falar de uma questão insolúvel da nossa intimidade: a relação entre amor e sexo.

A certa altura do filme, uma personagem sussurra ao ouvido da outra: “O ingrediente secreto do sexo é o amor”. Lindo, mas a personagem que recebe a revelação não acredita. E como poderia? Ela é uma devassa enrijecida, sem conhecimento do afeto. Quando se trata de sentimentos, o que é verdade palpável para um de nós pode ser romantismo pueril para o outro. E vice-versa.

Eu mesmo, embora romântico, ao ouvir a frase do filme pensei que também se poderia dizer ser o contrário: “O sexo é o ingrediente secreto do amor”. Estaria errado? Não. Há muitos para quem a intensidade do sexo é que define a ligação amorosa. Quando o sexo é bom, seus sentimentos vão de roldão.

Quantos de nós somos assim? Nem tantos, eu acho. Minha percepção é que a maior parte das pessoas, homens e mulheres, está disposta a trocar sexo por romance. O melhor sexo fica na memória, ou persiste em escapadas. Mas a pessoa por quem somos apaixonados, (sabe-se lá por que razão), queremos perto de nós, “para sempre”. Aceitamos até sexo irregular e meia boca em troca da sensação de amar.

O desejo nos perpassa a vida, mas não tem a capacidade do amor de nos ligar às pessoas. Fenece rápido, enquanto o anseio amoroso dura. Talvez se possa dizer que o desejo é uma sensação permanente e impessoal, refere-se a muitos, enquanto a paixão é incomum e voltada a um ser específico. Eles se misturam, mas raramente se confundem.

Isso não implica numa hierarquia de sensações. Não quer dizer que o amor é mais nobre. Mas sugere que as emoções têm tempo e qualidade diferentes. Não se constrói com o sexo o mesmo que se constrói com o amor. Não se extrai dele o mesmo grau de compromisso e nem a mesma dependência emocional. Quando o sexo com alguém começa a se tornar fundamental, deixou de ser apenas sexo. Virou carinho ou paixão. Ganhou um rosto. Sexo pode ser anônimo; amor tem identidade.

Mas, na vida de cada um de nós, frases gerais não fazem sentido. Somos peculiares e contraditórios. Fomos dotados pela natureza do poder de fazer sexo a todo momento, quase indiscriminadamente, mas não agimos assim. Alguma conexão afetiva é necessária. Uma pitada de amor, ainda que ilusória, torna o sexo possível no dia a dia. Nos dá segurança para se despir, física e metaforicamente, diante do outro. Para a maioria é assim, eu imagino. Mas, para outros, eu sei, a desconexão afetiva é essencial. Sem ela, não conseguem mergulhar na insensibilidade moral sem a qual o sexo se torna excessivamente cuidadoso.

Não é curioso? Precisamos de algum grau de intimidade para chegar ao sexo, que é fornecida pelo afeto. Mas, no curso do sexo, temos de nos desvencilhar do afeto, temos de despersonalizar o outro com títulos vulgares (seu isso, sua aquilo) para alcançar a luxúria, de onde emana o prazer mais visceral. Há uma tensão permanente entre essas coisas na vida da maior parte das pessoas. E no interior dos casais. O sentimento abre portas que levam ao sexo, mas em algum momento é necessários superá-lo para chegar até o fim - aonde se vai, contraditoriamente, apenas em companhia de quem nos dá segurança afetiva.

Mas isso tudo, claro, são suposições. A intimidade de cada um de nós é coberta por um véu de mistério e incompreensão. As misturas que fazemos de amor e de sexo, ou as trocas entre eles, nós s apenas somos capazes de admitir, e teríamos dificuldade em entender. Mas é fato que essas duas entidades - o desejo e o afeto - nos habitam. Duelam dentro de nós permanentemente. Às vezes, para nossa felicidade, se abraçam. Nesses breves momentos, que jamais serão eternos, a vida nos parece simples e sublime. Como a de um bicho

Ivan Martins

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Destino se inventa...



Se eu fosse mulher, tivesse 30 anos e não estivesse num relacionamento sério, minha lista de planos para 2014 começaria com quatro palavras: arrumar uma relação legal.

Imagino, claro, que a mulher de 30 se parece comigo na idade dela: meio carente, um tanto romântico e cheio de planos para o futuro. Planos, que, no meu caso, incluíam alguém para partilhar a vida.

Há muitas pessoas que não sentem assim, evidentemente. Há caras e garotas que vivem bem sozinhos. Tão bem, na verdade, que não desejam juntar os trapos e se comprometer. Eles transam quando querem, ficam bem sozinhos e extraem da sedução frequente aquela satisfação que outras pessoas só encontram na intimidade duradoura com uma mesma pessoa – por mais que ela traga seus próprios problemas.
Não é raro que se tenha inveja desses sedutores solitários, mas suspeito que eles, de vez em quando, também gostariam de ser diferente do que são.

Mas, se você sente que não nasceu para circular de forma autônoma, se você, no fundo da sua alminha inquieta, percebe aquele desejo ancestral de acasalar e (quem sabe?) fazer família, temo que a única solução para 2014 seja procurar um par.

Parece absurdamente óbvio o que estou dizendo, mas, acreditem, não é.

Estou cansado de conversar com mulheres de 30 anos que parecem ter desistido do projeto casal. Falam em adotar sozinhas uma criança, congelar óvulos ou viver avulsas para sempre, navegando entre um casinho e outro, entre um e outro site de relacionamento. Estão jogando a toalha, como se dizia antigamente – embora sejam jovens, atraentes, interessantes, bem sucedidas no trabalho. Um paradoxo de saias.

O que elas contam é que chegaram a uma idade em que é preciso tomar decisões, mas não há em volta delas sujeitos que queiram dar um passo adiante – ou, frequentemente, sujeitos com quem elas gostariam de dar o tal passo. Homem sempre existe, diz uma amiga minha. Mas cadê o homem que a faça sentir apaixonada? Ou que, tendo penetrado a couracinha afetiva dela, não se mostre mais interessado em seguir livre, rompendo outras couraças por aí?

A vida não é simples, naturalmente. Frequentemente, porém, ela tem solução. Que, neste caso, pode estar na atitude.

Acho que nós, homens e mulheres do século XXI, ainda temos um olhar adolescente para as relações afetivas. Queremos que nos caia do céu um romance arrebatador, pronto e completo, sem contradições ou dúvidas. Sem defeitos constrangedores também. Exigimos ser amados pelo que somos, mas estabelecemos condições elevadas para amar. Tendemos, de forma tola, a nos apaixonar pela beleza, pelo charme, pelo riso. Apostamos no clichê e na superfície, mas aspiramos ser tratados de outro jeito: queremos ser apreciados pela profundidade dos nossos sentimentos e por nosso caráter.
Outro tipo de atitude é possível, porém.

Outro dia, conversando com uma amiga sobre o casamento dela – que já tem 10 anos – ouvi algo surpreendente. “Eu tive muita sorte”, ela me disse. “Meu marido é um cara maravilhoso, mas eu poderia ter amado alguém muito pior.” Vocês percebem como é generosa essa última frase? “Eu poderia ter amado alguém muito pior” significa, essencialmente, que ela estava pronta quando o sujeito apareceu. Ele não precisava ser rico, lindo, heróico  Seria suficiente que a encantasse – e ela, lindamente, admite que não teria sido difícil. Um bom homem bastaria.
Acho que há nessa história ainda mais do que parece.

Nela se manifesta a disposição da mulher – embora pudesse ser do homem – de inventar o seu próprio destino. Acho que o romantismo pueril disseminado à nossa volta (em conversas, filmes, novelas, livros e até colunas da internet) nos transforma em criaturas passivas diante da nossa própria vida.

Agimos como se o amor fosse um evento externo à realidade. Partilhamos a convicção estranha de que diante do amor não temos nada a fazer. Acreditamos que a única atitude frente ao afeto é esperar que ela apareça. Não entendemos esse aspecto da existência como algo sob nosso controle - embora ele seja mais uma etapa da existência, outra experiência essencial da qual não faz sentido abdicar, mas diante da qual não deveríamos apenas sentar de boca aberta, embasbacados e passivos.

  Em outras palavras, me ocorre que construir uma relação estável é como terminar o colégio, escolher a faculdade, lançar-se a uma profissão, sair da casa dos pais: uma experiência que precisa ser praticada, tentada, pensada e, de vez em quando, improvisada e remendada. Ao final, talvez, aceita da forma como apareça.

Logo, se eu fosse uma mulher de 30 anos sem uma relação estável - ou um homem da mesma idade e na mesma situação –  olharia em volta neste primeiro dia do ano da graça de 2014, seja na praia chuvarenta ou na rua ensolarada da cidade, em busca de alguém com que eu quisesse passar os próximos dez anos.

Ele ou ela pode estar pertinho. Ou não. Mas é certo que essa pessoa existe, porque não se trata de um semideus ou de uma criatura engendrada pela Providência. É um homem ou uma mulher comum, como tantos, a quem você concederá, de forma particular e única, embora não irrefutável, o privilégio do amor. A quem você oferecerá o direito a partilhar alguns dos momentos mais importantes da sua vida – e que receberá, atônito ou comovida, a honra do seu amor. Estar com ele ou com ela será infinitamente melhor do que jogar as mãos para o alto e desistir. Aliás, como regra não se desiste da vida, nem das coisas que a tornam importante.
Ivan Martins
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