sábado, 29 de outubro de 2011

Fogo precisa de ar...



Quantos enganos são cometidos pela idéia do amor romântico. Duas metades que se completam; se ele não for eu não vou; se pintar desejo por outro é porque acabou o amor; ” eu não vivo sem voce” e por aí vai. Vai pro espaço o ar e fica o sufoco, o controle, o desejo reprimido pela culpa. Vai embora o encanto, o mistério, o prazer. E muitas vezes fica o prazer mas perde-se o amor, o companheirismo, a alegria de estar junto.
Acredita-se que a fusão do casal seja a realização desse sonho idealizado, tão alimentado pelos nossos contos de fada. Tudo terá que ser feito a dois, partindo do princípio de que cada um é apenas uma metade, que só se completará através do outro. Dissolve-se a identidade de cada parceiro, exatamente aquilo que foi o encanto, a atração. Falta o ar. O fogo arrefece e apaga. Fogo precisa de ar.
Não encontraremos a perfeição. Sequer encontramos tudo o que queremos e desejamos em uma única pessoa. Enfim, não temos respostas prontas, nem modelos.
Sem script precisamos criar. E a criação exige liberdade, espontaneidade, ousadia. Auto-estima.
Ninguém pode ser para o  outro a única fonte de interesse e prazer. E para saber o que me desperta o interesse e o prazer, preciso olhar para mim. Tudo se inicia a partir de se saber inteiro, mesmo que sempre haja um outro tanto a desvendar. Porque também para que nos mantenhamos apaixonados por nós precisamos do mistério, da dúvida, da eterna busca. Precisamos ser inteiros, plenos, livres, para que nossa alma receba sempre o frescor de novos ares. Em um jogo de esconde-revela, em que o véu areja o ar de que o fogo tanto precisa para queimar.
Lindo processo de ser cada vez mais o que somos e sermos capazes de despertar no outro e em nós mesmos
a paixão de viver.

Carla Andrea Ziemkiewicz

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