sábado, 1 de junho de 2013

Casou com o coqueiro e quer colher manga?




Construir um pomar é transformar terra em sabor. Escolher as sementes já com a água na boca do que se espera colher no futuro. Quem planta conta com a colheita. É fato. Espera um retorno.
Quando escolhemos um parceiro, estamos determinando uma parte do sabor do nosso pomar. Mas, inexplicavelmente, tem plantador que compra sementes de limão, na esperança de colher laranja lima. Não é que tenha comprado enganado. Apenas acha que, com o tempo, o sabor vai mudar. Planta seus limões bem feliz. Depois se espanta com o resultado da colheita. Estranha o azedume, faz cara feia. Não escolheu o limão? Esperava o que?

Vejo acontecer no consultório. As pessoas escolhem o parceiro como se procurassem apartamento. Já compram contando com a reforma. A pessoa é daquele jeito. Aceitou ou não aceitou?
Aceitam ficar com um coqueiro e passam a vida reclamando porque ele não dá manga. O que poderia ser doce sabor é provado como água saloba.

Todos nós temos alguma coisa para dar. Assim é também com o limão. Limão é boa fruta. Mas não é uma laranja lima. Nunca será. Faz limonada, caipirinha. É rico em vitamina C. Inigualável como tempero. Possui várias finalidades. Tem seu próprio sabor, e pode ser ótimo. Mas uma triste sequência de sustos e desilusões entre o que se planta e o que se espera colher desqualifica o limão, o reduz a zero.

É preciso saber receber, validar, reconhecer o valor do parceiro que está ao seu lado. Cada um é único. Com seus defeitos e qualidades.
Com famílias e casais muitas vezes esse mal entendido é o início do fim.
Esperar que o outro seja diferente de sua essência inviabiliza qualquer relação. Mina a parceria. Cria pequenas rachaduras, discretas infiltrações que vão aparecendo aqui e ali nas cobranças diárias. Muitas vezes se acha mais prático nem notar, fingir que não vê. Mas elas estão ali. E tendem a aumentar.
A dinâmica é essa. Um demonstra seu carinho, mas não exatamente da forma esperada pelo outro. Então não é bem recebido. Esse tipo de expectativa vai cavando um abismo entre as pessoas. Reclamam as que presenteiam, porque se entregaram e não foram bem aceitas na forma como o fizeram. As que recebem, porque não reconhecem como presente aquilo que lhes foi dado. E continuam na falta, ressentidas, distantes. Muitos relacionamentos se desfazem assim. Fica cada um de um lado, ferido, magoado. Como se falassem línguas distintas, vão interrompendo a comunicação do amor. O que era para ser um pomar vira terreno baldio.
A relação vai se desfazendo ponto por ponto como uma trama de tricô rasgada. Um bordado que vai soltando a linha e desfazendo seu desenho original. O que era figura, agora se desfigura. O amor vai saindo aos poucos, pela porta da frente. Sem que nada seja feito ou percebido. Quando a porta bate, a ficha cai.
Mas, aí já foi. Muitas vezes, é tarde demais.

Relação é parceria. Cada um dá o que pode, o que tem. Cada um de uma forma própria saberá de falar do seu amor. Porque amor é rio, tem que desembocar em algum lugar. Onde? É preciso boa vontade em descobrir, mapear seus afluentes. Em vez de ficar esperando que venha só como a gente quer receber. Ou se fechar na espera vã de que o outro adivinhe nosso desejo. É preciso saber qual é a forma que cada um tem de demonstrar o que sente.
Plantação depende de boa parceria entre a terra e a semente. Que a terra se deixe fecundar. Que a semente confie para se abrir. Relacionamento é assim. É cuidado, investimento, coragem e paciência no tempo que leva para brotar.

Relação é bumerangue. O que você recebe é o retorno do que cultivou. É via de mão dupla. O que vai, em algum momento volta. É certo.
O pomar da vida funciona assim: Plantou doce, tem doce. Plantou cactos, tem espinho. Plantou comigo ninguém pode, tem veneno.
Seu pomar é o espelho da alma. Pense a respeito. Que árvore você é? O que você planta no seu jardim?

Monica El Bayeh

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