sábado, 11 de junho de 2011

Amor

Nietzsche dizia que quando alguém decide se casar, a pergunta mais importante que deveria se fazer é: "Terei prazer em conversar com essa pessoa quando eu for velho?"

Junho chegou e trouxe a tiracolo a data comercial do amor: o Dia dos Namorados. Não se ouve falar de outra coisa (além do ministro Palocci, obviamente): TV's e revistas estampam vitrines de lingeries, perfumes, bombons e flores, num convite a demonstrações financeiras do sentimento supremo. Mas, ainda que seja muito bom dar e ganhar presentes, será que são realmente indispensáveis para o amor? E numa data específica?

Depois de uma certa idade - e não exatamente avançada - você conclui que experiência não se transmite. E quando se trata de relações afetivas, essa percepção fica ainda mais evidente. Não dá, por exemplo, para dizer para alguém apaixonado que 'um amor e uma cabana' são coisas de romance - livro, filme e novela - e que, quando a realidade vem com contas a pagar e filhos pra criar, se a base for só a paixão avassaladora dos dois primeiros anos de delícias, seu sonho de amor está fadado ao fracasso.

Também não é viável ponderar sobre coisas que só quem está de fora é capaz de enxergar. Por exemplo: o namorado da sua amiga bebe um pouco mais que o razoável; a namorada do seu irmão é ciumenta acima do normal - até pra você ela 'rosna'; o novo namorado da sua colega de faculdade tem ares de playboy e desaparece demais... Mas quem vai arriscar dizer qualquer coisa contra aquele bonitão grosseiro que com um 'vem cá, meu bem' faz a amiga esquecer tudo o que ele aprontou, dissipando defeitos ou contratempos? Como é que se vai abordar um irmão, se quando a moça chega cheia de chamego - e decotes - ele nem lembra que tem família?

Tem várias coisas que passam despercebidas a olhares românticos, mas que fazem diferença quando a relação começa a ficar mais estreita. E quando isso acontece, a ilusão se desfaz e os 'detalhes' caem sobre os apaixonados como um raio de desencanto. O sofrimento fica inevitável e, não raro, sela-se o pacto de nunca mais amar... Até que um novo ciclo de amor recomeça - do mesmo jeito...

Mas tudo seria mais fácil se a gente olhasse para o outro - eleito/a - com um olhar menos emocional, desde o início, mesmo quando a gente tenta convencer - a si e aos outros - que a coisa é passageira. Se ponderasse sobre futuro, responsabilidades, objetivos comuns, carreira, filhos, casa própria, família, velhice - os assuntos sérios que a gente esquece (nem lembra!) quando está apaixonado -, muitas frustrações poderiam ser evitadas.

Alguém pode alegar que se assim fosse, o encanto desapareceria antes de começar. Mas também haveria menos dor e desilusão - 'verbos' que não combinam com a felicidade desejada, nem no início, nem no fim.

Se fosse possível ter um olhar mais objetivo sobre o amor logo que ele nos flecha, haveria menos abandono e separação, menos silêncio e solidão (inclusive entre os pares), mais alegria genuína e paz de espírito. Nada de atitudes passionais: dias mais calmos e amor de verdade, tanto e mais - até que a morte os separe.

E muito mais conversa - em todas as fases da vida a dois...

Fonte: Debora Bottcher

Nenhum comentário:

Postar um comentário