terça-feira, 19 de julho de 2011

Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas as tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.(Caio Fernando Abreu)
 
Nas despedidas amorosas, geralmente, existe quem despede e quem é despedido. Este texto versa sobre o sujeito-paciente, aquele que sofre (integralmente) a ação do veredito.
Falar em despedida ou separação, numa análise prágmatica, é algo bem corriqueiro, afinal, quem já não passou por isso, seja em maior ou menor intensidade emocional, mas, com certeza, já viveu o seu quinhão de desconforto ou de lágrimas. Despedir-se de alguém é sinônimo de encerramento de enredo, ruptura de um lastro afetivo, fim da convivência física e início de uma série de lembranças que farão parte de uma nova rotina, agora, na ausência de um dos personagens, tendo, à princípio, como companheira fiel, a solidão. E isso dói!
Por que as despedidas são necessárias? É mesmo inevitável dar (ou receber) um adeus quando não há mais história para construir? E se simplesmente nos afastássemos, aos poucos, sem ferir, sem romper abruptamente com os laços que nos mantiveram ali por um tempo? A quem ficou, serão dias, noites e uma frase na garganta, dilatada, inflamada, que não quer sair: "Quem errou? Fui eu ou foi você?" Mas o fato é que o fim chegou, entrou pela porta, instalou-se no sofá da sala, empurrando-o para fora. A consciência pedirá, primeiramente, entendimento, depois mudança. É complexo apagar da memória um epílogo amoroso, uma presença marcante, sentimentos que habitam no coração. Essas coisas não entram em modo off de uma hora para outra.

Temos a exata consciência da saúde dos nossos relacionamentos, especialmente quando estão doentes, no entanto, quem ainda tem esperança de cura, insiste em manter o outro por perto, mesmo que à custa de unguentos que só fazem retardar o veredito. Falta coragem para mudar, colocar o pé para dentro do redemoinho e deixar ao sabor do vento a durabilidade da tensão. A incerteza amedronta. Temos o dom de nos apegar, esticar ao máximo o que nos é conhecido, por medo de que pode vir. Preferimos o alicerce, a muleta, a migalha, o pouco ou quase nada que recebemos a darmos chance ao improvável. É natural sobrepormos a emoção à razão quando é o nosso coração que está em jogo.

Sim, tudo é um processo, para quem recebeu o adeus, haverá insônia, passando a ferro as lembranças e todos os possíveis e alcançáveis pedaços do enredo, até os nauseantes e inintendíveis, chegando, então, à aceitação do fim. E mesmo que se tente evitar, o tempo é de reflexão, de abrir uma fenda para que escoem todas as reminiscências necessárias, as mágoas empoladas, a parte sombria, que não se quer guardar. Tudo é um ciclo, há tempo de sorrisos e igualmente de lágrimas. É preciso fazer essa travessia turva e até meio indigesta a fim de obter uma nova via de acesso, onde o passado não cabe mais.
E por trás desse assédio de tristeza temporária e quase saudade pelo que foi, o tempo responderá que nada é mais doloroso do que ficar ao lado de alguém que não nos enxerga, que já não sente o prazer da nossa companhia, que se aliviou com a nossa ausência, que foi embora sem olhar para trás. Seria tão mais simples apenas ir, sem o bilhete de adeus, sem formalizar o desenlace, sem esclarecer que aquela história de amor chegou ao último capítulo. Não precisaríamos ganhar o prêmio do adeus. Evitaríamos mortificar este momento para sempre.
A quem foi "despedido" resta, além das lembranças, o sentimento de desamparo, a dor da solidão que será carregada com zelo por um tempo, por todos os cantos da casa, levada ao shopping nas tardes de sábado, tomar um café no domingo de manhã, uma companhia que, se não houver desvelo, será quase apreciável: terá aroma, sabor, feição e, quem sabe, vida própria. A quem foi "despedido" resta entender, mesmo que aos poucos, que a vida está lá fora, continua com todas as "dores e delícias" possíveis de serem vividas e que uma ruptura amorosa não significa que houve perda, mas sim o resgate de si mesmo.

Por: Afrodite para Maiores

 

Um comentário:

  1. "Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.
    A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo."
    Gabriel García Marquez

    Palavras ao vento...nunca se sabe se elas vão ou se elas voltam. Quem determina a direção?

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