quinta-feira, 7 de julho de 2011

A PRISÃO DE CADA UM


   O psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32,
disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a
prisão na qual quer viver.
   Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível
refutá-la. A liberdade é uma abstração. Liberdade não é uma calça velha,
azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir. No
entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação
pendurado no pescoço. Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua
clausura.
   São cativeiros bem mais agradáveis do que Carandiru:
podemos pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música,
ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa
própria e habeas corpus, nem pensar.
   O casamento pode ser uma prisão. E a maternidade, a
pena máxima. Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de
chutar o balde e arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um cargo
de chefia. Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza.
   Viver sem laços igualmente pode nos reter. Uma vida
mundana, sem dependentes pra sustentar, o céu como limite: prisão também. Você se
condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida
amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada
através de um filho.
   Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que
poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é que
decidimos quando seremos capturados e para onde seremos
levados. É uma opção consciente. Não nos obrigaram a nada, não nos
trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes. Nosso crime é
estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o
mesmo crime que nós - nascer - foram trancafiados em lugares chamados
analfabetismo, miséria, exclusão. Brindemos: temos todos cela especial.

Autor Desconhecido

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