quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tão perto, tão longe...

Tudo em ti era uma ausência que se demorava: uma despedida pronta a cumprir-se. (Cecília Meireles)

Esta semana estive pensando sobre o motivo que leva determinadas pessoas a se manter ao lado de alguém que já não corresponde às expectativas ou talvez nunca tenha correspondido, mas, por insistência, insegurança, por amor, acabam se nutrindo de pequenas gotas de emoções que, mais cedo ou mais tarde, secarão por completo, levando-as à deprimente situação de angústia, até chegar à tristeza absoluta.

Quem se deixa entrar nesse processo conhece bem os sintomas de quando as coisas já foram por água abaixo. A verdade é que paramos de nos perceber e passamos a ver somente os defeitos de quem está conosco e, como num mecanismo de autodefesa à própria incapacidade de reação, culpamos o outro por nos encontrarmos estagnados, sem tesão pela vida e por todas as vicissitudes que já foram vividas por ambos.

Ninguém quer viver sozinho, mas a solidão muitas vezes é maior quando, acompanhados, não somos vistos. E como pesa essa amarra que nos aprisiona o corpo e a mente, tornando-nos reféns da nossa própria sorte. Não libertamos o outro e não nos damos chance de liberdade para sair do tom pastel, mesmo que isso represente algo misterioso, disforme, obscuro, talvez futuramente doloroso, cheio de incoerência e sem garantia de retorno à tepidez.

Teme-se isso tudo! E os temores que acompanham um (pré) fim de caso são bastante comuns. Tem-se a noção exata do que se irá enfrentar quando a barreira da suportabilidade for vencida. É uma espécie de prenúncio de morte, sem a menor ideia de quanto tempo se guardará o luto pela ausência da pessoa amada. Muitas lágrimas serão sentidas, o sentimento de solidão será sufocante seguido de um provável inconformismo e um desconforto sombrio, que cercará o seu universo, comprimido pela dor.

Independente das razões que levaram a essa realidade, o que se tem em mãos é uma mistura de um presente repleto de incertezas com um futuro imprevisto. Alia-se a isso o inevitável trabalho de Sísifo para esquecer aquele alguém a quem se dedicou o melhor de si e tinha tudo para dar certo. Ninguém está preparado para perder, ainda que haja conciência de que tatear o desconhecido pode ser um convite irresistível a uma nova vida, talvez repleta de dias melhores.

Por mais que se esforce, não há como se preservar emoções em medidas iguais. E como queremos da vida um doce poema, ao sentirmos o fim da rima, entramos num processo de nostalgia, tentando, em suspiros, resgatar as michas do que um dia foi exato e completo. Mas já paramos para pensar que num relacionamento podemos estar com a espada de Dâmocles apontada para a nossa cabeça, sujeita a nos ferir a qualquer momento? Não, ninguém alimenta essa possibilidade, já que somos, por essência, idealizadores do amor romântico.

Viver com alguém é tão inexato que é impossível prever a dimensão dos sentimentos do outro, do quanto ele se permite (ou deseja) de nós. Não é proposital, posto que emoções não são conscientes nem calculáveis. Elas acontecem (ou não)! E se não houver mais motivo para aprofundar um sorriso, aproximar para um beijo, estender a noite e preencher o dia com a presença de quem se tem ao lado, não há mais por que sustentar o alicerce com apenas duas mãos.

Por: Afrodite para maiores

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