sábado, 30 de abril de 2011

Amores Mastercard

 
 
Um amigo me contou um caso outro dia que me deixou meio indignada. Ele gostava de uma menina há tempos e a tal nunca deu bola pra ele. Ele tinha um Santana velho. Resolveu trocar o carro. Comprou um Honda. E não é que a menina passou a gostar dele no mesmo minuto? Mas o que me deixou revoltada não foi a reação dela e sim a dele! Ele ficou superfeliz por ela finalmente ter caído em seus braços, sem levar em consideração o motivo.

De uma outra vez, um outro amigo me disse que bastava contar a sua profissão para as meninas já o olharem com outros olhos. Só de saber o título. Não importava se ele era chato, mal-educado, pão-duro, ranzinza ou mulherengo. Babavam pelo que ele era por fora. Pelo status que ele tinha.

Sei que existem vários motivos que nos fazem gostar de alguém. Mas realmente eu não gostaria que alguém se interessasse por mim por causa do carro que eu tenho. Ou das roupas que eu visto. Ou pelo lugar onde eu moro. Ou por eu passar em um concurso qualquer que me dê uma profissão bem-remunerada. O carro pode ser batido. As roupas podem ficar fora de moda. Eu posso mudar de endereço. Posso machucar e ter que me aposentar. E aí? A pessoa vai gostar do meu carro amassado, das roupas ultrapassadas, da casa alugada, do meu status de aposentada precoce?

Conheço muita gente, algumas amigas inclusive, que deixam de sair com o cara se ele não tem carro ou não paga a conta. Não importa que ele seja um príncipe. Se não tem uns três cartões de crédito na carteira, perdeu a chance. Que venha o próximo que possa as abastecer de momentos dignos de comerciais de cartão Mastercard, que – diga-se de passagem – não serve pra comprar amor.

Eu gosto do meu namorado pela alegria que eu sinto quando estou junto dele e porque sei que fica o maior vazio quando ele não está perto. Gosto do jeito que ele tem de me mimar, de fazer com que eu me sinta amada, do tom de voz que ele tem, da forma com que franze as sobrancelhas quando está pensando, das brincadeirinhas que faz, pelo bom humor na maior parte do tempo, pelo amor que ele tem pela família, pela generosidade com o mundo inteiro, pela inteligência natural, pelo jeito que dorme (literalmente) em um piscar de olhos, pelo pulo que meu coração dá quando ele me liga e eu escuto a nossa música saindo do celular, pela tristeza profunda que eu sinto nas poucas vezes em que a gente discute e pelo ciúme exagerado que me deixa louca de raiva quando percebo qualquer uma se aproximar dele. Gosto dele pelo que ele tem por dentro. Ele pode ficar pobre, desistir da profissão, ter que andar de ônibus pelo resto da vida que eu vou gostar do mesmo jeito. Já a namoradinha que o meu amigo arrumou, vai embora no minuto em que 2011 acabar e aparecer um outro com um carro do (novo) ano.

Gostar de alguém pelo que a pessoa tem é ilusório. Os bens materiais que possuímos podem se perder em um segundo, o cartão de crédito tem data para expirar. Já o que somos, na essência, vai durar por toda a vida, não tem prazo de validade. Eu prefiro que meus amores sejam constantes em vez de transitórios. Um carro legal podemos conseguir por nós mesmos. Uma profissão bem remunerada basta que façamos por onde. Agora sermos amados pelo que somos, isso dinheiro nenhum pode comprar. E não adianta a Mastercard querer me provar o contrário.


Fonte: Crônica do Dia: AMORES MASTERCARD -- Paula Pimenta

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