sexta-feira, 8 de abril de 2011

Maturidade

Nada melhor do que o tempo para aprendermos a nos conhecer. É só ele que nos mostra o quanto sabemos da vida e o que ainda temos a descobrir. A maturidade nos faz refletir de maneira mais demorada diante das coisas que nos envolvem. Tendemos a resistir o novo, em contrapartida, temos mais curiosidade em ousar. Sabemos, claramente, que uma escolha errada, a certa altura da vida, pode nos fazer sucumbir de maneira irreversível, daí a ressalva ao desconhecido, mas são as experiências adquiridas que nos encorajam para novas ações e nos mostram que podemos mais. Depois dos quarenta anos, passamos a visualizar os nossos atos com muito mais essência, minimizando o automatismo a que estávamos acostumados na juventude. Já não há mais tanta pressão para provar quem somos e até onde conseguimos chegar. Porém, essa transição não acontece num passe de mágica; é a partir de determinado ponto que conseguimos nos enxergar, distanciando-nos do comportamento padrão (que não questiona) e nos aproximando de uma conduta individual, que começa a pedir passagem em nome do que ainda falta ser descoberto e da própria personalidade, que já não aceita mecanizar as atitudes. Somos treinados para "ter" e não para "ser". Temos de ter dinheiro para conquistar uma vida digna, que atenda a todas as nossas necessidades presentes (e até futuras), temos de demonstrar segurança, mesmo diante de dúvidas e obstáculos, temos de ser aceitáveis física e psicologicamente para não provocar a repulsa dos demais, e, principalmente, temos de ter inteligência para não cair completamente no vazio das convenções e conduzir a vida no piloto automático, nula de sentido, sem emoção, concernente com o coletivo e repleta de artificialismo. E por que não sentimos necessidade de fazer valer o que está lá dentro na época da juventude? Muito simples! Nesse período estamos preocupados em viver as emoções, aproveitar os acasos que a vida nos oferece, somos pouco exigentes quanto aos valores interiores, sublimando bem mais as amizades e as vivências coletivas. Já, na maturidade, por não haver tantos erros a serem corrigidos, mas sim lacunas a serem preenchidas, tendemos a personificar o "eu" em detrimento do "nós". Saímos do invólucro da passividade e tiramos da gaveta as tempestades mentais que se acumularam ao longo dos anos. Por culpa da cultura em que estamos inseridos, muitas pessoas têm uma visão deturpada sobre a maturidade, como se a vida fosse sinônimo de decadência. Quem disse que não podemos continuar nos expandindo e buscando novas experiências enquanto avançamos mais um ciclo? Esse clichê da eterna juventude nos induz a desistir cedo demais ou a nos equivocar, posando de adolescentes salubres para mostrar que estamos vivos. Também não é essa a hora de jogar fora velhas teorias, rever filmes, pintar a casa, dar festas, parar de beber, comer melhor e exigir da mente o que o corpo não consegue cumprir, é apenas um momento que nos pede equilíbrio e lucidez para eleger o que é prioridade e o que não faz mais sentido manter. Não precisamos mais nos esconder da realidade, buscando subterfúgios de auto-afirmação. Ratificamos, sim, a nossa existência, doa em quem doer, estamos, pois, preparados para uma nova fase, com os mesmos espinhos e obstáculos dos anos passados, porém, com o unguento certo para estancar possíveis feridas que venham a se abrir e com solidez suficiente para embasar os novos propósitos dessa vida de aprendiz. E quem não conseguir isso, deverá ter, por certo, ao fim da vida, uma sensação de insipidez que lhe entrará pela boca, descendo pelo peito, corroendo-lhe as entranhas por não ter sido capaz de descobrir o sentido da própria existência enquanto teve tempo para isso. acontecer.
Fonte: Afrodite para maiores

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