sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Droga da Solidão

Solidão, como disse Josh Billings, "é um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada". No entanto, é incrível a capacidade que as pessoas têm de procurar ou se acostumar com ela: buscamos nos becos, atrás das portas, pelos cantos da casa: silêncio e solidão, é tudo o que precisamos. Flores de plástico sobre a mesa, quintal sem jardim, bichos de pelúcia e cinema em casa, tudo em nome da solidão. E como é bom conviver apenas com sombras de fantasmas na madrugada insone. Ninguém por perto a nos sondar, questionar, arrancar palavras que não querem dizer, emoções que se recusam a sentir, sorrisos sem vontade de aflorar. É difícil entender por que nos isolamos... São tantas as pessoas que passam pela nossa vida, umas em flashs, outras que nos ajudam a escrever uma história, construir uma trilha, delinear os traços dos caminhos que tomamos. E são essas que deixam marcas, seja de amizade, ressentimento, saudade, emoções em forma de imagens, cor, perfume, gestos, sabor, sentimentos... Cada uma delas deixou algo que lhe é próprio, único, que a caracteriza. Será que aquela carismática falava demais? A extrovertida o deixava tonto? A excêntrica era muito estranha? A intelectual era prepotente? A simplória era vergonhosa? Será que ninguém serviu para compor o seu mundo, a sua vida, o seu cantinho inodoro com flores de plástico? Sei, a simetria não permitiu que você mudasse a sua vida em nome de um intruso que desvirtuaria o seu cotidiano, trocaria o seu cardápio, plantaria flores no quintal e o forçaria a ir ao cinema na sexta-feira à noite. A sua personalidade seria destruída, esmagada, sugada, reduzida a pó. Como viver sem as noites de insônia, com alguém a lhe perguntar se não vem dormir, com um cãozinho latindo lá fora e aquele perfume cítrico que invade o quarto toda vez que é usado? É tão bom ser insípido, inodoro, inaudível, descompromissado de expor sentimento, de fazer cortesia, ser isento de dar um sorriso, uma palavra qualquer, um bom dia, não é? Mas e a sinestesia? A exploração dos sentidos dos quais somos dotados? Para que lhe servem os sentidos? Atributos inerentes ao ser humano: a sensação do toque, do cheiro, das palavras sussurradas no ouvido, dos beijos trocados nas noites de inverno, dos olhares que se cruzam em cumplicidade. São momentos em que as energias convergem e transformam o líquido em sólido. São correspondências sensoriais que fazem a vida ter um sabor diferente e nos tornam fortes o suficiente para que percamos o medo de nós mesmos e do colorido do dia, e da música alta, e do cãozinho que late, e das ervas daninhas que precisam sempre ser arrancadas para não extinguirem as flores do quintal. A verdade é que não conseguimos viver sozinhos, sem um amigo verdadeiro, sem um amor que nos complete. Amor que nos complete! Que-nos-complete! A ausência dessa ligação nos torna reticentes e arredios. Passamos a ter uma visão ambivalente do mundo, um comportamento obtuso, atitudes vazias e mecânicas. Passamos a não ligar se é cedo ou tarde, se o corpo pede alimento, se a letargia é permanente e já encobriu o sorriso que virou nostalgia. Precisamos de gente por perto que nos faça sentir vivos. Será que não existe alguém bom o suficiente para nos preencher ou será que não estamos espertos e sensíveis o bastante para perceber? Permitir-se a uma pessoa é abrir um livro com imensas possibilidades de ilustrações, é fechar um ciclo e iniciar outro. Tudo parece novo! A conversa instigante, o coração inquieto, os braços agitados, as energias fluindo e se expandindo para todos os lados. Que importa se esse alguém é excêntrico ou extrovertido em demasia, se tem defeitos e manias estranhas, se fala demais? É a pessoa que ali está e faz parte do seu mundo. Então, permita-se: ria, chore, cale-se, fale até cansar, extasie-se de todas as sensações possíveis. Jogue fora as flores de plástico e beba aquele gole de vinho, brindando o prazer da companhia. Tim-tim!
Fonte: Afrodite para maiores

Nenhum comentário:

Postar um comentário